P: A pandemia e as respostas engendradas pelos Estados, muitas delas liberticidas e restritivas, levaram muitas pessoas à redescoberta do valor da liberdade individual, do Direito Natural, como oposto ao direito positivo. O Sr pensa q este clima geral poderá ser convidativo ao ressurgimento da análise Libertária da sociedade e às falhas do estado?
Hans-Herman Hoppe: Será provavelmente útil resumir sumariamente o que aconteceu durante o último ano e meio e o que acontece ainda no presente. Nunca em tempo de paz foram as nossas liberdades tão drástica e severamente restringidas, indo de prisões domiciliárias e recolher obrigatórios, encerramento de empresas, proibições de trabalho, de produção, de viajar, de circulação e de associação. Verificaram-se algumas diferenças entre países ou entre regiões, quanto à severidade destas restrições, mas em lugar algum foi permitido que a vida continuasse de forma regular. E tudo isso foi feito em nome da protecção da população contra um vírus supostamente mortal e altamente infeccioso que, de outra forma, sem essas restrições, supostamente causaria um aumento dramático ou mesmo catastrófico na taxa de mortalidade.
Rapidamente se tornou evidente, no entanto, que nada disto é verdade. No número esmagador de casos (cerca de 80%), o vírus é assintomático, de tal forma que uma pessoa nem saberia que tinha sido afectada por ele se não tivesse sido submetida a um teste artificial e altamente não confiável. Que em todos esses casos assintomáticos, uma pessoa não representava risco infeccioso para outras pessoas. Que, mesmo que o vírus fosse acompanhado por sintomas da doença, o paciente sobreviveria à sua doença em praticamente todos os casos (em mais de 99% de todos os casos para pessoas com menos de 70 anos, e em cerca de 95% de todos os casos na faixa etária de +70). Que, tendo em conta a dimensão da população e a estrutura etária, não se verificou um excesso de mortalidade significativo em comparação com outros períodos de tempo anteriores com uma época de gripe intensa. E que a taxa de vítimas (de doentes e mortos) para países ou regiões com lockdowns duros e severos, como Alemanha ou Califórnia, por exemplo, não diferiu significativamente daqueles com restrições relativamente brandas e tolerantes, como a Suécia ou a Flórida.
Para os políticos, no entanto, que são pagos com impostos e, portanto, estão em grande parte protegidos e não podem ser responsabilizados pelos danos e dificuldades económicas que as suas medidas causam para grandes sectores da população, nenhuma dessa acumulação de provas fez muita diferença. Continuam os seus esforços para manter a população em pânico permanente, queixando-se de futuras mutações virais potencialmente mais perigosas e exercendo cada vez mais pressão sobre a população para se vacinar, apesar de as vacinas aprovadas não terem sido testadas para efeitos secundários e já se saber que não protegem com segurança contra qualquer reinfecção pelo vírus, e, enquanto isso, todos os seus fabricantes foram isentos de toda e qualquer responsabilidade.
Depois destes longos preliminares, a minha resposta à sua pergunta pode ser relativamente breve e compacta – e dizê-lo desde o início: não sou tão optimista como você parece ser. Dadas as invasões maciças e sem paralelo dos direitos de propriedade privada e das liberdades humanas naturais por parte do Estado, o nível de oposição pública, resistência e desobediência civil tem sido baixo e desmoralizador. É certo que, em lugares com uma longa tradição de individualismo, como os EUA, registaram-se alguns casos notáveis de desobediência civil, e nos países do antigo bloco de Leste em particular, com a sua longa tradição de governo autoritário ou dictatorial, as pessoas há muito que aprenderam a ignorar ou contornar com sucesso muitos decretos governamentais intrusivos e metediços. Além disso, em todo o mundo realizaram-se numerosas manifestações, muitas vezes com muitos milhares de participantes, protestando contra as várias restrições governamentais. Mas em parte alguma do debate público associado a tais protestos consegui detectar uma consciência clara da causa principal do problema: ou seja, a própria instituição de um Estado. Ou seja, uma instituição que está isenta das disposições de direito normal, privado, tal como se aplica a todos os outros; uma instituição, ao invés, cujos agentes podem emitir ordens relativas aos bens de outras pessoas sem o seu consentimento e que não podem ser responsabilizados pelas consequências dos seus comandos; e uma instituição, portanto, que está em clara violação da chamada Regra de Ouro da Ética, dos mandamentos bíblicos oito e dez, e de toda a lei natural (Sublinhado nosso). Pior ainda, não só não houve e continua a não haver uma compreensão clara da causa fundamental e estrutural de todo o mal-estar, (da doença?), como qualquer crítica pública e qualquer crítica aberta às medidas governamentais foi imediatamente condenada como irresponsável, mesquinha ou mesmo perigosa pelos meios de comunicação social e rejeitada como tal também pela esmagadora maioria do público em geral que, ainda até hoje, adere envergonhadamente a todos os comandos do governo, por mais ridículos que sejam.
Em resumo: lamento dizer que, então, como consequência do presente caso Covid, não espero tanto um recrudescimento das análises libertárias e um interesse renovado pelo direito natural. Mas, pelo contrário, receio que os políticos tenham aprendido com a experiência actual que um pânico público pode ser fabricado com base em pouco mais do que algumas estatísticas de saúde habilmente manipuladas e que esse pânico pode então ser utilizado para expandir o próprio poder até ao limite máximo de um controlo quase totalitário; e, portanto, dada a megalomania típica dos políticos, que eles não apenas arrastarão o modo de pânico actual o máximo de tempo possível, mas serão encorajados a recorrer novamente às mesmas medidas totalitárias ou semelhantes no futuro, se considerarem que é o momento certo para isso.
P: De acordo com alguns, a pandemia acabará por aumentar os fluxos migratórios. Se esta previsão se confirmar correctamente, assistiremos a (mais um) assalto à propriedade privada. Na sua opinião, o que deve ser feito?
HHH: Concordo essencialmente com esta sua avaliação. Tal como a pandemia atingiu mais duramente os indivíduos mais pobres do que os mais ricos, também os países e regiões mais pobres, como o Médio Oriente e África, por exemplo, sofreram economicamente mais do que os países comparativamente mais ricos da Europa Ocidental. Assim, a atracção dos países da Europa Ocidental por potenciais imigrantes do Oriente Médio e da África aumentou ainda mais como resultado da pandemia. Mesmo antes da pandemia, a migração em massa para a Europa Ocidental a partir do Oriente Médio e da África tinha que ser caracterizada como uma espécie de invasão estrangeira. Agora, como resultado da pandemia, espera-se que o número de potenciais invasores aumente ainda mais.
Estes invasores não chegaram e não chegarão armados com armas e com intenções de conquista e ocupação militar. No entanto, não deixam de ser invasores. Por um lado, porque nenhum deles foi convidado pessoalmente por residentes domésticos ou instituições residentes e, por outro, uma vez que chegaram ao seu destino, não sustentaram nem sustentarão as suas vidas pelos meios normais, ou seja, com o seu próprio dinheiro, mas por saque, ou seja, à custa dos residentes domésticos. Além disso, em comparação com outros tempos, saquear hoje em dia é muito mais fácil. Os invasores não precisam se envolver em longas buscas para descobrir onde há mais ou menos para saquear. Pelo contrário, sabem desde o início o tamanho da recompensa que os espera em vários locais, tornando a Suécia e a Alemanha os seus destinos preferidos, por exemplo. E onde quer que os invasores acabem, a sua pilhagem não exige o exercício de qualquer violência, eles vêm normalmente armados apenas com um qualquer telemóvel, bastando apenas o seu registo num qualquer departamento estatal. E o Estado, pois, como saqueador-chefe doméstico, fornecer-lhes-á habitação, comida e algum dinheiro de bolso do seu vasto reservatório do esbulho (dos impostos e da chamada propriedade pública), na expectativa de que, em troca da tal “generosidade” pública, os invasores lhes dêem doravante o seu apoio activo nas suas próprias actividades futuras de pilhagem.
Além disso, a actual migração em massa do Oriente Médio e da África para os países da Europa Ocidental exibe outra característica peculiar. Não será necessariamente o caso em que os invasores permaneçam para sempre saqueadores, saqueando e vivendo às custas da população doméstica. Também é possível, e há exemplos históricos disso, que alguns invasores originais se revelem superiores, mais engenhosos, produtivos e empreendedores do que a população doméstica e, assim, realmente enriqueçam em vez de empobrecer o país invadido. No caso em apreço, porém, não é esse o caso. Os invasores actuais, no número esmagador de casos, são, para dizer o mínimo e da forma mais educada possível, pessoas dotadas de um nível bastante baixo de capital humano, de tal forma que a maioria delas acabará por ficar na miséria e, como consumidores-impostos, serão um obstáculo permanente à economia. Pior, intimamente correlacionado com esse mal-estar está o facto de que a actual safra de invasores exibe também uma taxa de criminalidade desproporcionalmente alta.
O que deve ser feito nesta situação parece bastante evidente. Os invasores devem ser travados e só devem ser admitidas pessoas convidadas que suportem o custo total da sua própria presença. Mais especificamente, todos os barcos com os chamados refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo para desembarcar em Itália, por exemplo, devem ser imediatamente escoltados de volta de onde vieram, a tripulação deve ser presa e forçada a pagar todas as despesas desta expedição, e os barcos devem ser confiscados. Apenas algumas dessas operações e todo o susto acabarão de uma vez por todas! O mesmo procedimento deve ser aplicado aos organizadores e participantes de invasões através da rota terrestre através dos Balcãs, por exemplo. Todos os patrocinadores nacionais dos chamados refugiados, sejam particulares, igrejas ou qualquer outra organização, devem suportar todos os custos associados à presença dos seus clientes patrocinados e ser responsabilizados por todo e qualquer dano causado por eles. Ou seja: nada de externalizar custos para ninguém! E quanto aos requerentes de asilo, se possível, deveriam ser obrigados a apresentar primeiro o pedido e a ser examinados pela embaixada ou consulado mais próximo do destino pretendido, porque estas instituições, devido à sua maior familiaridade com as circunstâncias locais, parecem estar mais bem equipadas para distinguir entre casos genuínos e casos falsos: pois afinal, conhecemos muitos casos em que alguém que afirma ser inocente e estar em perigo iminente de ser morto ou torturado, só ontem ou há um ano foi ele próprio um assassino ou torturador de pessoas inocentes. Estas criaturas merecerão asilo?
Embora as medidas necessárias para impedir a invasão da Europa Ocidental através de massas de estranhos não convidados sejam bastante óbvias, tenho grandes dúvidas de que alguma delas venha a ser realmente tomada; e isto apesar do facto de uma enorme maioria da população em toda a Europa Ocidental querer que as actuais políticas de imigração dos seus governos parem imediatamente.
P: Um dos aspectos que parece estar mais intimamente ligado às políticas de justiça social e redistribuição de recursos é o do politicamente correcto, que se tornou uma autêntica psicose colectiva. O Sr. acha que é possível a cura desta autêntica doença do espírito?
HHH: Concordo que nos últimos anos o “politicamente correcto” se transformou num qq tipo de doença mental infecciosa. Há alguns sinais de esperança, no entanto, de que os agentes infecciosos, ou seja, as incubadoras de tais ideias, já exageraram. A doutrina atingiu níveis de absurdo tão enormes em tão pouco tempo, que mesmo as pessoas mais submissas ou dóceis são regularmente colocadas num estado de descrença e um número crescente de pessoas realmente começa a considerar todo este esquema como nada mais do que uma piada cruel. Mesmo que o pico da insanidade mental possa ter sido atingido, no entanto, e para realmente derrotar a doença, a sua causa primária, ou seja, o seu erro intelectual fundamental, este deve ser identificado e eliminado.
O erro fundamental, propagado incansavelmente pelas elites dominantes em todo o mundo ocidental, é a sua visão igualitária do mundo. Eles não reconhecem, ou melhor, não querem reconhecer o que deveria ser óbvio para qualquer pessoa com olhos que quer ver: que cada pessoa é única, diferente e desigual a todas as outras pessoas, e que o mesmo é verdade para todos os grupos de pessoas em comparação com qualquer outro grupo. E que além disso, cada uma destas pessoas e grupos de pessoas naturalmente diferentes deve agir e encara sob diferentes circunstâncias externas as quais herdaram e que foram moldadas pelos seus vários diferentes antepassados. Dado este ponto de partida, portanto, deve esperar-se como perfeitamente normal e natural que o resultado de tudo isto seja também diferente: isto é, que as conquistas, os sucessos ou os fracassos, de diferentes pessoas e diferentes grupos de pessoas na vida também sejam diferentes.
Na visão igualitária, no entanto, esse fenómeno natural, previsível e esperado de generalizada e singular desigualdade representa um escândalo. Pois se se assume – contra todas as evidências empíricas – que todas as pessoas e todos os grupos de pessoas são essencialmente iguais, então as diferenças reais empiricamente observadas, muitas vezes maciças e profundas, nas realizações de diferentes pessoas e grupos de pessoas e seus respectivos antepassados devem ter algumas causas não naturais, isto é, moralmente questionáveis, e que elas, as elites dirigentes, as devem eliminar para restaurar a humanidade de alguma forma ao seu estado supostamente original e natural de igualdade humana. Do ponto de vista igualitário, portanto, as desigualdades de renda e riqueza, em particular, mas não só, não surgem de diferenças de realizações pessoais e da acumulação de tais conquistas através de sucessivas gerações de pessoas biológica e genealogicamente relacionadas, mas resultam sim de uma sorte cósmica de circunstâncias ou através de meios de exploração e de discriminação e, que portanto, são “desfavorecidas”. E será, pois, a tarefa “nobre” das elites dominantes, corrigir tais desigualdades e injustiças por meio da redistribuição de renda e riqueza e de várias leis de acção afirmativa ou não discriminação. Além disso, cabe às elites dominantes determinar quais as diferenças, de um número incontável de diferenças observáveis entre vários indivíduos e grupos de indivíduos, que devem ser registados como relevantes e accionáveis ou não, e como então fazer essa “igualização” correctiva. E nesta tarefa, as elites do poder ocidental inventaram, entretanto, uma ordem hierárquica verdadeiramente notável, e mesmo notavelmente perversa, de pessoas e grupos de pessoas, desde os mais “imerecidos” e com necessidades mais urgentes de reparação, até aos mais “desfavorecidos” e com direito às mais generosas compensações. Há ocasionalmente desacordo entre as elites do poder reinante em relação à localização exacta de alguma pessoa ou grupo de pessoas em particular nesta ordem hierárquica. Por vezes surge um qualquer entrave e há desacordo sobre como resolvê-lo. Mas há um acordo quase unânime em relação aos dois extremos: o mais merecedor e o mais desfavorecido.
O primeiro lugar das pessoas mais indignas é supostamente ocupado por homens brancos, e em particular homens heterossexuais brancos; e o topo do ranking das pessoas mais merecedoras é ocupado por negros, e em particular por mulheres negras e, acima de tudo, mulheres lésbicas negras. Ou seja: o que nos dizem essencialmente para acreditar é o seguinte: aquelas pessoas e grupos de pessoas e os seus respectivos antepassados que aparentemente deram a maior contribuição para a civilização humana, que demonstraram o maior engenho, empreendimento e produtividade e ostentam a maior quantidade de acumulação de capital, prosperidade em geral e o comum civismo e que, portanto, oferecem os lugares mais atraentes para as pessoas ficarem ou irem – são precisamente essas pessoas que supostamente terão a maior necessidade de fazer as pazes e oferecer uma compensação a todas as outras pessoas. E a compensação mais generosa que devem será precisamente a todas as pessoas ou grupos de pessoas que menos contribuíram para a civilização humana, que apresentam a maior quantidade de patologias sociais e que habitam os locais menos desejáveis. E porquê? Porque os primeiros alegadamente não merecem a sua posição superior devido às suas conquistas superiores e às dos seus antepassados, mas devem essa posição apenas à sorte cósmica, ao privilégio branco e à exploração; Da mesma forma, a posição inferior destes últimos não é o resultado da falta de talento e de realização por parte deles e de seus antepassados, mas apenas o resultado da má sorte e do vitimismo: a vitimização dos negros através da conquista, colonização e discriminação pelos brancos. E, além de tudo isto, dizem-nos que todas as pessoas biologicamente normais, ou seja, todos os homens e mulheres heterossexuais, devem pedir desculpa, curvar-se e fazer as pazes com todos os que têm uma orientação sexual diferente e anómala.
(A propósito: de acordo com essa visão, a migração em massa em curso de negros e demais raças para territórios dominados por brancos não é uma invasão hostil, mas constitui uma restituição e reparação há muito esperada, devida aos opressores brancos às suas muito sofredoras vítimas negras e outras.)
Além disso e acima de tudo: somos solicitados a acreditar que todos estes disparates igualitários feitos também por uma elite dominante que é composta maioritariamente por homens heterossexuais brancos e que, enquanto trabalham diligentemente na destruição da sua própria civilização ocidental, com as suas políticas de redistribuição igualitárias, desfrutam de enormes privilégios altamente desiguais enquanto vivem em grande conforto e altamente desigual.
Estas elites foram incrivelmente bem-sucedidas na estupidificação do seu próprio povo e conseguiram fazer-lhes acreditar em muitas crenças manifestamente absurdas. Mas há limites para a credulidade até mesmo de pessoas imbecis. Pedir ao seu povo que acredite no que a doutrina “politicamente correcta” diz sobre a sua posição, posição e localização no tecido social global é simplesmente pedir demasiado. É demasiado absurdo para se poder acreditar. Na verdade, é tão absurdo, que mesmo muitos, se não a maioria, dos alegadamente mais merecedores beneficiários das políticas de redistribuição das elites dominantes não acreditam nisso.
Como eu disse no início, pois: face à crescente oposição pública: da ridicularização, desafio e resistência em relação aos mandamentos do politicamente correcto, e para não colocar em risco a sua própria legitimidade, espero que as elites dominantes recuem um pouco da fronteira ideológica actual e tornem a sua mensagem igualitária um pouco abaixo de suas posições de absurdo actuais. Nem sequer descarto um curto interlúdio “populista” em reacção ao actual estado de perturbação mental e insanidade. Mas não espero que esse alívio seja mais do que algo temporário. E não espero, portanto, um retorno à normalidade, mas sim a rápida retomada de causas, temas e narrativas igualitárias em melodias e variações sempre novas e inovadoras. Porque o igualitarismo, e a redistribuição compulsória de renda, riqueza e posição social, ou seja, uma política de Divide et Impera, é parte integrante do que é e do que exige ser uma classe dominante no controle de um Estado.
P: Pode falar-nos sobre a Sociedade de Propriedade e Liberdade, PFS, (https://propertyandfreedom.org/) que fundou há anos?
HHH: O PFS é um salão intelectual exclusivo, que se reúne anualmente, durante vários dias, situado em belos cenários, e hospedado por mim e minha esposa. Teremos o seu 15º aniversário, e o salão normalmente reúne cerca de 80 a no máximo 100 participantes, incluindo cerca de uma dúzia de oradores. A participação é apenas por convite pessoal, mas as partes interessadas podem candidatar-se a um convite. Os participantes são compostos por indivíduos excepcionais de todas as idades, origens intelectuais e profissionais e nações. No entanto, todos estão unidos no reconhecimento e na afirmação da propriedade privada e dos direitos de propriedade privada justamente adquiridos, da liberdade contratual, da liberdade de associação e desassociação, do comércio livre e da paz. E da mesma forma: opõem-se radicalmente a toda promoção e promotores do estatismo, da guerra, do socialismo, do positivismo jurídico, do relativismo moral ou do igualitarismo, seja de “resultado” ou de “oportunidade”. Essencialmente, é uma assembleia de libertários culturalmente conservadores (dos tipos mais radicais), e de conservadores da velha escola ou “paleo” com inclinações distintamente libertárias. Ou, alternativamente: uma reunião de anarquistas decididamente burgueses. Mais importante ainda, porém, é um encontro de mentes que não reconhecem nenhum “tabu” intelectual ou “politicamente correcto”, mas estão comprometidas com o radicalismo intelectual intransigente, dispostas a seguir os ditames da razão onde quer que estes os possam levar. Se me é permitido dizê-lo sem modéstia: não há nada como as reuniões da PFS.
P: O Sr. está a escrever nova obras? Quais são os seus actuais interesses de investigação?
HHH: Na próxima reunião da PFS, em Setembro, pretendo trazer de volta à vida a obra do pensador suíço Karl Ludwig von Haller (1768-1854). Bastante famoso em toda a Europa durante a primeira metade do século 19, Haller e sua obra são hoje quase completamente desconhecidos. Se Haller é mencionado, geralmente é-o por historiadores do pensamento, e eles normalmente referem-se a ele com desdém e apresentam-no como um “ultra-reaccionário” – um arqui-inimigo do glorioso “iluminismo” – cujas ideias há muito foram superadas e substituídas pela sofisticação da filosofia política “moderna”. Na melhor das hipóteses, tal é o veredicto geral, e Haller é digno apenas de interesse de um antiquário.
Em nítido contraste com esta visão, eu levo Haller a sério, como um pensador sistemático, e apresentá-lo-ei e à sua teoria de uma “ordem social natural” e a ideia correspondente de uma “sociedade de direito privado”, tanto como um importante percursor e um correctivo necessário para a filosofia política libertária moderna, e ao mesmo tempo como o mais feroz dos críticos e críticas de tudo o que hoje corre sob o rótulo de filosofia política moderna.
A longo prazo, e desde que eu ainda possa reunir energias mentais suficientes, pretendo voltar aos meus primórdios intelectuais como filósofo e, esperançosamente, completar ainda um ensaio abrangente sobre epistemologia e método.
Entrevista publicada pela Revista Italiana Atlantico, original em italiano aqui.