O objectivo primordial de qualquer governo é o crescimento económico. Este é considerado essencial para diminuir a taxa de desemprego e assim aumentar o valor dos impostos que são usados para financiar o governo. Por outras palavras o crescimento económico é a base de todo o planeamento económico, sendo dedicado um grande esforço aperfeiçoando as estatísticas consideradas vitais para quantificar tudo o que possa contribuir para alcançar este objectivo. Além do mais a política monetária «independente» há muito que migrou do objectivo principal de controlar a infracção para o de direccionar a economia para um maior crescimento. A maioria das pessoas nos países desenvolvidos conhece e suporta este objectivo, mesmo existindo uma discordância em relação aos meios utilizados. No entanto, os governos têm falhado consecutivamente em atingir esta meta fundamental, eles estão agora crescentemente preocupados que os cortes nos gastos públicos irão forçar nações inteiras a uma profunda contracção económica.
Mas estaremos nós certos em pensar em termos de crescimento ou contracção económica? Este conceito é essencialmente «keynesiano» e provem da análise económica popular. Este pressupõe que os governos têm um impacto positivo e que conseguem influenciar a economia de um país, uma suposição que, após uma análise detalhada revela ser incorrecta. Em vez disso, numa economia desenvolvida (e de sucesso) os produtos e serviços que as pessoas querem são produzidos de forma não planeada e aleatória. É a soma de todas as actividades, que organizam a produção de bens e serviços, por empreendedores e proprietários de negócios que prevêem que os seus bens e serviços serão exigidos pelo público.
A força que suporta uma economia de mercado livre é a aleatoriedade das acções produtivas. Estas só se expandem se os factores de produção se expandirem; de outro modo a distribuição de recursos disponíveis depende da antecipação empreendedora do que as pessoas irão precisar e querer. Quando o governo intervém nesta economia produtiva mas não planeada, ele destrói esta qualidade aleatória, direccionando as actividades económicas numa única direcção.
Os ciclos destrutivos de crescimento e declínio sempre foram o resultado destas interferências. Os governos procuram coordenar aleatoriedade para um resultado que normalmente se chama de crescimento. E por um curto período de tempo eles terão a ilusão de sucesso. Mas após este os esforços do governo resultam num aumento de preços, uma vez que os factores de produção (matérias primas, trabalho e capital) apenas se encontram disponíveis a preços cada vez mais altos. Este aumento de preços inevitavelmente levam a um aumento das taxas de juro, ao ponto de forçar aqueles que se aproveitaram do clima de crédito fácil a perdas e em alguns casos à bancarrota. A teoria do capital prevê esta consequência, os acontecimentos históricos confirmam-no, no entanto a grande maioria dos economistas ignoram continuamente os factos [1].
É tão provável o intervencionismo ter sucesso como é o de a água correr rio acima. O crescimento económico ou a falta dele, o sucesso ou o fracasso pelo qual é medido, é o resultado. A questão é então a de saber se é possível ter crescimento económico sem intervencionismo.
A resposta lógica é não. Uma economia de mercado livre na ausência de factores externos não cresce: ela progride, o que é uma coisa muito diferente. Ela descarta as coisas que o consumidor não deseja e produz coisas que estes provavelmente desejam. Ela ajusta os preços dos produtos a um nível que satisfaz o consumidor e que é ao mesmo tempo lucrativo. A sobre produção é punida e a sub produção convida à competição. Ninguém sabe o que os consumidores irão querer amanhã e quanto eles estarão dispostos a pagar por isso, mas os empreendedores são geralmente bastante bons a adivinhar, uma vez que põem o seu próprio tempo e dinheiro em risco. Eles têm que antecipar os níveis de procura e também os preços para os seus produtos uma vez que decorre sempre um período de tempo para planear, produzir e comercializar um produto. Isto é progresso, não crescimento. O progresso consiste em ter melhores produtos e serviços no futuro, em relação ao presente, usando os recursos disponíveis hoje. O progresso representa mais valor pelo dinheiro no futuro, o que significa que os preços tendem a cair. E à medida que estes decrescem, mais coisas podem ser adquiridas com o mesmo dinheiro. No entanto, que os governos fazem, é destruir este processo de progressão numa tentativa de o reproduzir com crescimento estatístico.
As estatísticas usadas para o medir, principalmente o produto interno bruto, não conseguem medir mais do que a quantidade existente de dinheiro na economia, fazendo-o de forma imperfeita. Os gastos governamentais, que são um custo económico, são incluídos simultaneamente com a produção de bens e serviços. Os produtores eficientes tais como os produtores e fornecedores de bens electrónicos, que reduzem os seus preços ao longo do tempo, vêm a sua percentagem da produção diminuída relativamente ao total, enquanto aqueles que mantêm os seus preços são devido a terem um monopólio ou a serem subsidiados aumentam a sua importância no total. Este é simplesmente o resultado de um uso indiscriminado de um agregado monetário para medir o conceito erróneo de crescimento económico. Assim o P.I.B. e as estatísticas relacionadas não medem progresso: são antes promotoras de regressão económica.
Assim, devemos concluir que o P.I.B. é uma aproximação à quantidade de dinheiro existente numa economia. É igual ao somatório da produção, dos gastos governamentais e das mudanças de preços. Vamos ignorar por um momento os factores extra produção, assim a produção apenas progride devido aos factores de produção disponíveis. Vamos também assumir que as regulamentações governamentais se mantêm inalteráveis. No caso em que estas duas premissas são observáveis, o crescimento económico têm obrigatoriamente de ser uma reflexão de mudanças nos preços, que por sua vez resulta das mudanças na quantidade de dinheiro existente numa economia. E ao analisar o crescimento económico «real», isto é crescimento económico ajustado por um índice de inflação de preços, os peritos estatísticos evitam o registo da maioria dos efeitos da inflação monetária. Assim, o crescimento económico não representa crescimento real, é apenas uma alternativa, pouco eficaz, de medir o crescimento monetário.
Não se deveriam levar a sério as tentativas, falhadas, do «planeamento central» de manipular uma economia e as suas estatísticas, caso estas não tivessem consequências. No entanto estas existem e põem continuamente em causa do desenvolvimento económico. Os planeadores centrais conseguiram enganar por completo o público em relação ao crescimento económico, mas também se enganaram a eles próprios. Por esta razão eles não estão equipados para analisar e actuar com as crises que se estão a desenvolver, que são o resultado das suas intervenções anteriores. Eles agora alegam que o crescimento económico, a fonte dos impostos recolhidos pelo governo e a sua consequente solvência é ameaçado pelos cortes orçamentais. Estatisticamente, isto é verdadeiro, uma vez que se forem retirados os custos governamentais e o apoio para actividades económicas desnecessárias, o P.I.B. irá cair. Mas o ponto importante que é normalmente ignorado é que um governo que pare de restringir os recursos ao sector privado liberta-os para serem usados de forma mais eficiente para o benefício comum, pelo mesmo sector privado.
E isto é, em ultima análise, a saída para as dificuldades económicas do presente.
- Existem muito boas análises sobre a Teoria do Capital, mas o erro de se converter actividades aleatórias em objectivos comuns, premissa central para se entender os efeitos destrutivos do planeamento central, raramente é notado. Isto é um erro. ↩︎
Publicado originalmente no website do autor (entretanto retirado), com o título «The Fallacy of Economic Growth».