O preço do arroz de mesa no Japão disparou. Em Junho de 2025, o preço médio grossista tinha atingido 27 102 ienes por 60 quilos. Isto equivale a 452 ienes por quilo (cerca de 3,12 dólares à taxa de câmbio actual). No retalho, o preço médio de um saco de 5 quilos tinha ultrapassado os 4 285 ienes (29,50 dólares).
Comparado com 2021, o preço do arroz de mesa mais do que duplicou, causando inquietação generalizada entre o público japonês.
Em plena crise do arroz no Japão, o antigo Ministro da Agricultura, Taku Eto, do Partido Liberal Democrático no poder, disse numa palestra em Saga que não compra arroz porque recebe imenso como oferta dos seus apoiantes. Dado que o arroz está profundamente ligado à cultura, às tradições e à vida quotidiana do Japão, uma onda de indignação pública forçou, em última análise, Eto a demitir-se.
O seu sucessor, Shinjiro Koizumi, respondeu libertando 300 000 toneladas de arroz de mesa das reservas estatais em Junho (para além das 310 000 toneladas já aprovadas) a um preço de 2 000 ienes por 5 quilos (13,75 dólares). Segundo o Ministério da Agricultura, esta medida reduziu o preço médio nacional do arroz nos supermercados de mais de 4 000 ienes (cerca de 28 dólares) para aproximadamente 3 000 ienes, proporcionando um alívio de curto prazo à crise do arroz. Não obstante, o Primeiro-Ministro Shigeru Ishiba sofreu uma derrota dolorosa nas recentes eleições para a Câmara Alta, a qual foi associada aos altos preços do arroz e ao custo de vida.
Os problemas estruturais do mercado do arroz no Japão remontam à década de 1970. O governo introduziu o sistema Gentan para reduzir a produção de arroz de mesa, estabilizar o seu preço e, assim, apoiar o rendimento dos agricultores de arroz politicamente influentes. Os agricultores recebiam subsídios para mudar da produção de arroz de mesa para arroz de ração e outras culturas, como trigo ou soja. Isto levou a um declínio constante na produção de arroz de mesa ao longo do tempo. Em 2018, o antigo Primeiro-Ministro Shinzo Abe chamou a atenção pública ao anunciar o fim definitivo do sistema Gentan, depois de este ter sido reformado em 2004. Contudo, os apoios ao preço do arroz persistiram de forma indirecta, já que o governo continuou a subsidiar a produção de arroz de ração e outras culturas.
As importações de arroz, que poderiam reduzir os preços de forma permanente, só foram permitidas gradualmente desde 1995, mas sob fortes restrições. Actualmente, o Japão permite a importação de aproximadamente 770 000 toneladas de arroz por ano. Apenas cerca de 100 000 toneladas desta quota de “Acesso Mínimo (MA)” se destinam à venda como arroz de mesa, o que corresponde a apenas 1,4% do consumo anual.
O Ministério da Agricultura, Florestas e Pescas impõe uma sobretaxa significativa de 292 ienes por quilo sobre este arroz MA isento de direitos quando vendido a grossistas. O arroz importado para além da quota MA enfrenta uma tarifa elevada de 341 ienes por quilo (2,35 dólares), o que implica uma tarifa superior a 400%. O presidente norte-americano Donald Trump chegou a afirmar que a tarifa ultrapassava os 700%.
O boom do turismo e uma má colheita em 2023 — especialmente no que respeita à qualidade, em comparação com o ano anterior — dominaram o debate público sobre as razões do forte aumento do preço do arroz. Na corrida para as mais recentes eleições para a Câmara Alta, a televisão pública NHK destacou o preço do arroz de mesa e as medidas de emergência de Ishiba como temas centrais da eleição. Uma sondagem recente da Kyodo News mostrou que a taxa de aprovação do gabinete de Ishiba tinha caído para 22,9%, uma queda acentuada de 9,6% em relação ao inquérito de Junho.
A questão mais importante para os eleitores nas eleições da Câmara Alta foi “medidas contra a subida dos preços”, com 32,2%. Em Junho de 2025, a inflação dos preços no consumidor situava-se em 3,3%, bem acima da meta de 2% do Banco do Japão. A inflação subjacente foi registada em 3,4%. O aumento do nível geral de preços afectou duramente os agregados familiares, já que os salários reais têm vindo a cair de forma constante desde 1998, resultado de mais de 30 anos de estagnação económica. Desde que a inflação disparou a partir de 2020, esta não voltou (ao contrário do que sucedeu noutros países industrializados) a normalizar-se.
A mais recente libertação de reservas de arroz de mesa, pouco antes das eleições da Câmara Alta, foi no melhor dos casos uma solução de emergência, mas não aumentou a produção de arroz de mesa nem facilitou as importações. Os principais beneficiários foram grandes retalhistas como a Don Quijote e a Rakuten, dado que apenas vendedores com um volume anual de arroz superior a 1 000 toneladas tiveram acesso às reservas libertadas. Os pequenos vendedores locais ficaram de mãos a abanar, enquanto a pressão inflacionária geral persistia. A intervenção de Koizumi no preço do arroz não conseguiu resolver a inflação em geral, já que o arroz representa menos de 1% do índice de preços no consumidor do Japão.
Para conter a inflação, o Banco do Japão deveria ter aumentado as taxas de juro há muito tempo. Mas as taxas de juro de longo prazo no Japão já tinham subido significativamente, em grande parte devido aos aumentos da Reserva Federal dos EUA e do Banco Central Europeu entre 2022 e 2024. Novas subidas no Japão não só onerariam o governo com custos mais elevados de serviço da dívida como também amplificariam os riscos financeiros, caso o iene se valorizasse.
As populações rurais, cujos rendimentos têm sido sustentados pelas políticas do arroz do governo, incluindo subsídios pela conversão de terras agrícolas, depositaram as suas poupanças, entre outros, no Norinchukin Bank (o Banco de Agricultura e Florestas). Quase metade dos activos do Norinchukin — cerca de 47 biliões de ienes (324 mil milhões de dólares) — foram investidos no estrangeiro devido à política persistente de taxas de juro baixas do Banco do Japão. Se o iene se valorizasse face ao dólar após um aumento das taxas de juro pelo Banco do Japão, estas posições no estrangeiro perderiam valor nos balanços das instituições financeiras.
Os fundos de pensões do Japão enfrentam um risco semelhante. No final de 2023, os fundos de segurança social e pensões japoneses tinham acumulado 161 biliões de ienes (1,11 biliões de dólares) em activos estrangeiros. Por exemplo, o Fundo de Investimento de Pensões do Governo (GPIF) deixou uma parte significativa do risco cambial das suas grandes posições externas sem cobertura, o que torna os fundos vulneráveis à valorização.
No conjunto, a crise do preço do arroz no Japão revela dois dilemas. Primeiro, o Banco do Japão poderia combater a inflação aumentando as taxas de juro. Mas isto ameaça a sustentabilidade do orçamento do governo e das pensões numa sociedade japonesa envelhecida.
Segundo, o governo poderia reduzir o preço do arroz eliminando os subsídios a outras culturas e permitindo mais importações. Mas isto prejudicaria os agricultores politicamente influentes, bem como as regiões periféricas do Japão, que sofreram mais com a interminável crise económica desde o início da década de 1990 do que os centros económicos.
Depois de Donald Trump ter manifestado surpresa no recente conflito comercial pelo facto de o Japão não estar disposto a aceitar arroz americano apesar da enorme escassez de arroz de mesa, o governo japonês apenas concordou em aumentar a quota atribuída aos EUA dentro do MA (quota de Acesso Mínimo), sem a ampliar. No entanto, sem reformas abrangentes, a economia japonesa vai continuar a debater-se e o Japão vai enfrentar uma polarização política semelhante à vivida nos EUA e na Europa. A razão é clara: numa economia paralisada por uma intervenção governamental contraditória, os conflitos de distribuição não conseguem ser resolvidos.
Artigo publicado originalmente no Mises Institute.