O erro que daria origem à teoria da exploração não nasceu em Karl Marx. Marx herdou-o — e amplificou-o — de Adam Smith.
Smith, grande filósofo moral e divulgador incomparável, acreditava que o salário era a forma “primitiva” de rendimento e que a ganância e o lucro vinham depois, como extensões dessa relação inicial entre trabalhador e empregador. A partir daí, imaginou-se que todo ganho do capitalista derivaria, em última instância, de algo retirado ao trabalhador.
Mas a ordem é inversa. O que é primitivo na economia não é o salário, mas a ganância empreendedora, a tentativa de transformar recursos dispersos em algo de maior valor. O salário surge mais tarde, quando o empreendedor já criou um quadro produtivo que permite contratar, investir e assumir riscos.
Ao confundir o empreendedor com o gestor, Smith reduziu a figura mais criativa da economia a um simples administrador. E foi nesse vazio teórico que Marx construiu a sua noção de mais-valia: o lucro como diferença entre o valor produzido pelo trabalhador e o que lhe é pago.
Se se aceita a premissa smithiana, a conclusão marxista é inevitável: o lucro seria exploração. Porém, se se corrige a premissa, toda a teoria desaba.
O lucro não nasce de espoliar trabalho, mas de antecipar necessidades, de arriscar capital, de coordenar pessoas e recursos num contexto de incerteza. É o prémio pela visão correta — não um resíduo moralmente suspeito.
A essa diferença real entre valor criado e custos pagos pode chamar-se Mais-valia de Say — não porque Jean-Baptiste Say a tenha formulado assim, mas porque foi o primeiro a distinguir claramente o empreendedor do mero possuidor de capital. Say entendeu que o lucro é a recompensa da função de previsão e organização, e não o produto de um desequilíbrio social.
A mais-valia marxista descreve o lucro como apropriação; a de Say explica-o como descoberta. Uma parte do ressentimento, a outra da inteligência. Uma é conflito, a outra é criação.
Com esta inversão, a economia deixa de ser uma luta entre classes e torna-se um processo de cooperação, onde o engenho e o risco convertem desordem em valor, e valor em prosperidade partilhada.

O verdadeiro motor do progresso não é a “exploração” do trabalhador, mas a capacidade empreendedora que cria os próprios empregos, produtos e mercados. A sociedade avança não porque uns perdem e outros ganham, mas porque alguém imagina algo que antes não existia e convence os demais de que vale a pena produzi-lo.
Essa é a verdadeira refutação final da teoria da exploração: o lucro não é roubo — é a prova de que alguém compreendeu o futuro antes de ele acontecer.
Juan Fernando Carpio: [email protected]
Preparado para o Instituto Mises Portugal.