O capitalismo de mercado livre é frequentemente, e de forma errada, associado a globalistas sinistros partidários de um “governo mundial” e a liberais das “fronteiras abertas”, os quais nada valorizam a identidade nacional e estariam dispostos a substituir os povos brancos que edificaram a civilização ocidental por uma população global, “sem raça”, importada por via de imigração em massa. Em reacção a essas maquinações globalistas, certos nacionalistas passaram a promover o etnonacionalismo branco e a excepcionalismo europeu, incentivando os brancos a sentirem orgulho nas qualidades civilizacionais que consideram ser exclusivas da sua raça. Ludwig von Mises, um grande defensor da civilização ocidental, via no capitalismo de mercado livre um elemento essencial para a sua preservação; contudo, rejeitava tanto os globalistas uniformizantes como os etnonacionalistas, quaisquer que fossem as suas origens.
Em Acção Humana, Mises apresenta a civilização ocidental como inseparável da ciência económica. Não considera o progresso económico um mero efeito colateral ou acaso feliz da grande civilização ocidental; pelo contrário, vê-o como um dos seus elementos constitutivos. A civilização ocidental só surgiu porque se baseou numa economia sã e perecerá se dela se afastar. Embora reconheça que os povos brancos foram os criadores da civilização ocidental, Mises não entende que a raça branca, por si só, seja uma condição necessária para a civilização. Rejeita a ideia de que países sem população branca estejam condenados a nunca atingir os mesmos patamares que o Ocidente. Para ele, a ciência económica opera da mesma forma, independentemente da raça de quem a aplica, tal como a gravidade afecta todos os homens por igual. A economia é uma ciência de meios e fins: quem escolhe meios errados fracassa inevitavelmente na obtenção dos seus objectivos. Mises adverte que, se a sociedade ocidental rejeitar a economia sã, a falência será o desfecho inevitável:
É necessário frisar que o destino da civilização moderna, tal como desenvolvida pelos povos brancos nos últimos duzentos anos, está indissociavelmente ligado ao destino da ciência económica. Esta civilização pôde emergir porque os povos foram dominados por ideias que aplicavam os ensinamentos da economia aos problemas da política económica. Ela perecerá, e inevitavelmente, se as nações continuarem a seguir o caminho iniciado sob o feitiço de doutrinas que rejeitam o pensamento económico.
Para Mises, a razão humana e a acção humana são os alicerces da civilização. É a razão que permite ao homem compreender a importância dos direitos de propriedade e da divisão do trabalho, ambos essenciais para o progresso económico que permite ao homem superar a existência primitiva. Isto é verdade independentemente da composição racial da população. Não há argumentos economicamente válidos que justifiquem qualquer tipo de racialismo, pois as leis económicas não variam consoante a raça. Aqueles que afirmam que o Ocidente foi construído pelos brancos através da exploração de outras raças estão profundamente enganados. O Ocidente foi erguido sobre os direitos de propriedade, a divisão do trabalho e a troca voluntária. Mises explica, assim, que o progresso económico é essencial para a civilização e constitui uma condição prévia da mesma. Quem deseja preservar a sua civilização mas rejeita a sã economia não conseguirá alcançar esse objectivo. Diz Mises:
A condição natural do homem é a pobreza extrema e a insegurança. É romantismo tolo lamentar o fim dos “felizes dias” do barbarismo primitivo. Em estado selvagem, esses queixosos nunca teriam chegado à idade adulta; e, se chegassem, não disporiam das oportunidades e comodidades que a civilização proporciona. Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Engels, se tivessem vivido no estado primitivo que descrevem com saudade nostálgica, não teriam tido o lazer necessário para estudar nem para escrever os seus livros.
Ao salientar que a divisão do trabalho e uma sociedade baseada na cooperação e na troca são essenciais para a civilização, Mises não afirma que esta se explique exclusivamente por teorias económicas. Reconhece que existem muitas fontes de sucesso e de erro. A economia não é a única ciência que estuda a condição humana, nem explica completamente por que razão umas nações são ricas e outras permanecem pobres. Muitos aspectos da natureza humana escapam ao campo da economia, sendo objecto da psicologia ou da sociologia. Noutras obras, como Liberalismo, Mises explora esses factores não-económicos. Também Murray Rothbard, em Nações por Consentimento, adverte os libertários contra o esquecimento da importância da comunidade, da nação e do sentimento de pertença.
Contudo, ao explicar o papel essencial da economia nos fundamentos da civilização, Mises sublinha que as lealdades étnicas e os laços raciais só têm valor civilizacional na medida em que promovem a cooperação e a divisão do trabalho. Escreve:
Podemos chamar consciência de espécie, sentimento de comunidade ou sentido de pertença ao reconhecimento de que todos os outros seres humanos são colaboradores potenciais na luta pela sobrevivência, porque são capazes de reconhecer os benefícios mútuos da cooperação — coisa que os animais não conseguem.
A colaboração e a cooperação são necessárias. O parentesco, por si só, não basta. Por exemplo, ninguém pode acusar as tribos africanas de falta de sentido de clã ou parentesco tribal, mas isso nunca lhes trouxe progresso económico. A ideia central é que, sem economia sã, qualquer nação permanecerá atolada na pobreza, por mais fortes que sejam os laços étnicos e por mais admiráveis que sejam os seus costumes ou valores culturais. Isto não é negar a importância da etnicidade ou dos laços comunitários, mas afirmar que estes, por si sós, não constituem o fundamento da civilização.
Assim, qualquer tentativa de alcançar um patamar civilizacional mais elevado, rejeitando simultaneamente a liberdade individual e desmantelando a protecção da propriedade privada, está votada ao fracasso. Sem direitos de propriedade, nenhum meio adoptado para alcançar o sucesso económico poderá produzir o resultado desejado. E isso não se deve a uma suposta incapacidade racial inata, mas sim ao erro, à ignorância e à recusa dos princípios económicos mais básicos. Mises escreve:
[Os etnólogos] estão completamente enganados ao afirmar que essas outras raças agiram segundo motivos diferentes dos que moveram os brancos. Asiáticos e africanos, tanto quanto os europeus, procuraram sobreviver com sucesso e usaram a razão como arma principal nesse esforço. Procuraram livrar-se dos predadores, das doenças, prevenir as fomes e aumentar a produtividade do trabalho. É inegável que, no cumprimento desses objectivos, foram menos bem sucedidos que os brancos. A prova é que desejam beneficiar de todas as conquistas do Ocidente.
Tomemos o exemplo de povos africanos seduzidos pelo comunismo e convencidos do seu poder mágico para gerar progresso e prosperidade. O seu objectivo declarado continua a ser o progresso económico. O problema não reside na falta de interesse em civilizar-se, mas sim no erro na escolha dos meios. Estão iludidos por pensadores marxistas que os convencem de que o comunismo verdadeiro nunca foi tentado, e que, desta vez, sob a luz das filosofias comunitaristas africanas, o comunismo genuíno florescerá. Falharam rotundamente. Mises distingue entre este erro na escolha de meios e uma suposta incapacidade racional inata:
Os índios da América do Norte não tiveram engenho para inventar a roda. Os habitantes dos Alpes não foram suficientemente perspicazes para criar os esquis que teriam tornado a sua dura vida mais suportável. Tais falhas não se devem a uma mentalidade diferente da dos povos que já usavam rodas e esquis; são fracassos mesmo segundo os critérios dos próprios índios ou montanheses alpinos.
É precisamente por isso que os homens aprendem com outros. Ao verem que alguém teve sucesso onde eles falharam, deduzem que esse sucesso se deveu a métodos superiores. É puro bom senso. Mises insiste que a razão é uma condição universal do homem. Embora reconheça que a civilização ocidental tem estado ligada aos povos brancos («é vão negar que, até ao presente, certas raças pouco ou nada contribuíram para o seu desenvolvimento, podendo ser consideradas inferiores nesse sentido»), Mises não atribui essa diferença a uma inferioridade inata inultrapassável, nem vê o génio de certos brancos como superioridade natural. Escreve:
Não sabemos o que causa as diferenças inatas de capacidade humana. A ciência não consegue explicar porque Newton e Mozart foram génios criadores e a maioria das pessoas não o é. Mas é claramente insatisfatório dizer que um génio deve a sua grandeza à sua ascendência ou à sua raça.A questão está precisamente em saber porque esse homem difere dos seus irmãos e dos demais membros da sua raça.
A rejeição da razão, que hoje domina muitas instituições ocidentais, constitui, por isso, uma ameaça grave à civilização ocidental. A lição que se retira de Mises é clara: a queda civilizacional aguarda todos os que rejeitam a razão, qualquer que seja a sua raça ou motivação.
Artigo publicado originalmente no Mises Institute.