“Os piores males que a humanidade já teve de suportar foram infligidos por maus governos.” – Ludwig von Mises
Você sabe o que é TACE?
TACE é a abreviação da Teoria Austríaca dos Ciclos Económicos, teoria esta que não é nenhum bicho papão de sete cabeças impossível de ser compreendida, é apenas uma teoria da Escola Austríaca de Economia que, ao compreendermos bem, passamos a ter uma nova visão sobre as crises. Entendendo a TACE você descobrirá, por exemplo, o principal causador das crises de 1929 e 2008 (consideradas as piores crises globais). A Escola Austríaca de Economia foi uma das únicas – senão a única – escola económica a descrever o ciclo económico, fazendo com que possamos entender a priori, a partir de premissas lógicas, como as crises começam. E a posteriori, pudemos observar que a teoria é sempre confirmada na prática.
A TACE foi originalmente desenvolvida pelo genial Ludwig von Mises e depois aprimorada por seu grande aluno, Friedrich August von Hayek. De maneira objetiva e resumida, a teoria nos mostra que ciclos económicos e recessões são causadas pela criação de dinheiro. Ao criar dinheiro sem lastro a partir do nada, o governo está criando crises. O economista norte-americano, Murray Newton Rothbard, escreveu um livro intitulado “a grande depressão americana”, onde ele mostra como a intervenção do governo americano na política monetária na década de 1920, foi a causa do grande crash de 1929. Além disso, podemos observar que na década de 1980 (conhecida como a década perdida do Brasil), os estímulos monetários dos governos brasileiro geraram as crises económicas (mostrarei isso adiante).
A Ciência Económica trata da acção humana, por isso, temos de entender que as pessoas possuem preferência temporal pelo dinheiro, i.e; precisam decidir entre consumir hoje ou poupar e consumir uma quantidade maior no futuro. E é isso que determina a taxa de juro – ou pelo menos deveria determinar – pois, quando o indivíduo opta por abdicar do consumo actual, existe a taxa de juros que as pessoas estão dispostas a aceitar pelo “sofrimento” de não consumir no momento. Esta taxa que equilibra esta preferência temporal das pessoas é a chamada “taxa natural de juros” da economia. No entanto, a emissão de moeda produz o efeito de diminuir a taxa de juros e, inicialmente, enganar os agentes (empresários) – que, acreditando se tratar de maior poupança (mais dinheiro nas mãos das pessoas), embarcam em investimentos de longo prazo, alargando, assim, a estrutura de capital da economia.
Posteriormente, quando os agentes (empresários) descobrem que na realidade não se tratava de poupança, mas de moeda “fantasiada” de poupança (criada a partir do nada), a taxa de juros sobe e isso leva a um encolhimento da estrutura de produção, fenómeno que produz desemprego (efeito sanfona), que é maior nos setores mais afastados da produção de bens finais. Assim, a inflação – quantidade adicional de moeda que entrou na economia sem lastro – acabará provocando o desemprego de factores de produção. Como disse Hayek, não há escolha entre comer demais (emitir moeda sem lastro real) e ter indigestão (recessão), porque ambas são inseparáveis, a primeira acarretando a segunda. Foi basicamente o que aconteceu o crash de 1929, Rothbard argumenta em seu livro, “a grande depressão americana”, que no período entre 1921 e 1929, o governo dos EUA não evitou a criação de dinheiro, pelo contrário, permitiu que os bancos emprestassem mais dinheiro do que havia em seus cofres. Ademais, o FED (Banco Central Americano) activamente estimulou os bancos a emprestarem recursos para “manter a economia aquecida”. Recursos estes que foram para toda a economia, fazendo com que os empresários tomassem decisões erradas de investimentos, os chamados “malinvestments”, dando início à crise.
No Brasil também é possível analisar o que aconteceu na chamada “década perdida”, e nesse caso, é necessário antes falar do período do “milagre económico”. Para isto, prefiro fazer uso da análise feita por Guilherme Molina, engenheiro e director de investimentos na Private Equity: “Vamos analisar os anos entre 1968 e 1980 no Brasil, o período do ‘milagre económico’. Com taxa média de crescimento anual de 7%, era o país que mais crescia no mundo. O período do milagre foi marcado por intervenção governamental, investimentos em infraestrutura, e muita geração de dinheiro sem poupança atrelada (via impressão de dinheiro e empréstimos do Banco do Brasil e diversos outros bancos).
Entre 1950 até 1969, os investimentos (formação bruta de capital fixo) e a poupança eram equivalentes (basta olhar as duas curvas do gráfico). A partir de 1970, as duas curvas se descolaram, ou seja, começou-se a investir muito mais do que havia de poupança disponível na economia. Muitos investimentos se mostraram erróneos no Brasil durante este período, devido os sinais errados que os empresários receberam de crescimento da economia. Além disso, muitos investimentos governamentais não eram financeiramente atractivos, porém foram adiante por questões políticas.
A gota d’água foram as crises do Petróleo que se iniciaram no final da década de 70. O Brasil possuía muitas dívidas em dólar e importava boa parte do petróleo consumido. Quando os principais produtores globais criaram um cartel (OPEP) e resolveram aumentar o preço do petróleo em mais de 10x no período, este impacto abalou profundamente a balança de pagamentos do Brasil.
Estava criada a ‘tempestade perfeita’ e a década de 1980 ficou conhecida como década perdida pelo baixo crescimento econômico, problemas de endividamento e hiperinflação.
Note que, apesar da ‘tempestade perfeita’, a causa raiz do problema brasileiro foi o boom de crescimento na década de 1970 sustentado por dívida sem lastro em poupança. A crise poderia não ter ocorrido se o governo tivesse evitado a expansão inflacionária, ao invés de ter sido o grande gerador dos déficits e inflação do período”.
Como pudemos observar, esses dois exemplos, do caso Brasileiro da década de 1980 e o grande crash de 1929 (que se estendeu durante a década de 30), mostram como a podemos explicar as crises utilizando a TACE.
Dito isso, parece-me óbvio que os governos deveriam ser proibidos de: I) Exigir e/ou obrigar que bancos emprestem mais do que a quantidade de dinheiro que eles tem para este fim (através das aplicações dos correntistas). os valores depositados em conta corrente não deverão ser empestados; II) salvar os bancos quando ficarem com problemas financeiros. Pois ao ter a certeza de que serão salvos, os banqueiros tendem a correr mais riscos do que normalmente fariam, é algo natural; III) imprimir dinheiro (inflação) e injetar na economia com o objetivo de “aquecer a economia” e/ou manipular a taxa de juros da economia; IV) ser o propulsor dos investimentos. As decisões do governo tendem a ter razões políticas e lhe falta onisciência (ou como diria Hayek, falta conhecimento) para saber qual o melhor setor para se investir. Por isso, se os governos seguirem a lista do que não fazer, não mais serão causados desarranjos econômicos. Em geral o Estado é o campeão dos malinvestments (termo utilizado por Mises), e por isso a frase colocada no início deste texto faz tanto sentido.
Deste modo, agora fica fácil entender que a conclusão austríaca – de que o desemprego é a causa natural da inflação – mostra quão equivocadas são as análises feitas por John Maynard Keynes que ficaram conhecidas como a curva de Phillips, que postulavam a existência de um trade-off ou dilema entre inflação e desemprego, de maneira que, se o governo desejasse combater a inflação, teria que aceitar uma taxa de desemprego de mão de obra maior ou, se quisesse reduzir o desemprego, seria forçado a aceitar uma taxa de inflação mais elevada. Essa análise keynesiana é pífia, mas infelizmente levada a sério até os dias de hoje.