A democracia, esse grandioso espectáculo em que o “povo” – seja lá quem for – elege os seus próprios parasitas, conhecidos por políticos.
Para ingressar nesse selecto grupo, são necessárias aptidões peculiares: ser demagogo, popular e exímio mentiroso. A genialidade desta farsa reside na sua natureza despersonalizada; ao contrário da monarquia absoluta, onde o bandido tinha um rosto identificável e que podia ser odiado, enquanto na democracia todos aspiram ao papel de parasita. Afinal, se os ladrões foram eleitos por mim, são “os meus ladrões”, e assim o poder perpetua-se sem resistência.
Além disso, não podemos esquecer a feroz competição entre esses salteadores, cada um prometendo mais favores e benesses aos grupos de pressão – sejam plutocratas, multinacionais ou sindicatos – na busca incessante pela reeleição. Em vez de limitarem o poder dessa ficção chamada Estado, alimentam-na, com promessas que apenas servem para invadir cada vez mais a vida dos cidadãos, sob o disfarce de uma “eleição legítima”. No final, o Estado expande-se, o indivíduo definha, e a liberdade evapora-se, num jogo de cartas marcadas.
Quando um governo, composto por parasitas, cede aos pedidos dos grupos de pressão, necessita inevitavelmente de mais recursos e de maior controlo para implementar e gerir as políticas exigidas. Isso frequentemente conduz à expansão do poder centralizado, culminando na formação de um cartel de grupos mafiosos, como é o caso da União Europeia.
Primeiro, através da criação de regulações, de supervisores e de burocracias, visando gerir e fiscalizar os benefícios e programas concedidos aos grupos de interesse. Isso exige uma coordenação centralizada para garantir que as políticas sejam aplicadas uniformemente em toda a jurisdição sob a alçada do Estado.
Em segundo lugar, à medida que o governo assume novas responsabilidades, o seu alcance sobre a vida dos cidadãos amplia-se. Isso pode incluir desde políticas sociais e económicas até à regulamentação de aspectos culturais e educacionais, todos geridos por uma autoridade central.
Por fim, como sobredito, a extorsão do gado intensifica-se, dada a necessidade de financiar os programas e benefícios prometidos pelos bandidos que aspiram a ser eleitos. O governo necessita, assim, de aumentar a arrecadação de impostos ou contrair dívidas. Mas, como se sabe, nunca é suficiente.
A democracia, na sua brilhante “generosidade”, erradicou o ouro e a prata — os meios de troca escolhidos pelo mercado desde há milénios —, substituindo-os por simples papelinhos, ou, nos dias de hoje, por meros registos informáticos (amanhã, será o Euro Digital). Estas “moedas fiduciárias”, cuja produção não custa praticamente nada, foram confiadas a um autodenominado “independente” banqueiro central, que mais parece um comissário soviético.
Para que o roubo passasse despercebido, o protestantismo positivista inventou o índice de preços, uma ficção científica digna de aplausos. Esse índice, supostamente, mede a inflação, permitindo ao povo manter-se actualizado sobre o poder aquisitivo do “seu dinheiro”.
É imperativo recordar que o dinheiro serve apenas como um meio de troca, facilitando transacções e evitando a dupla coincidência de desejos característica das trocas directas. Por ser um fenómeno de mercado, o dinheiro não mede nada. Os preços, por sua vez, só fazem sentido como proporções, pois tanto o dinheiro (a escala) como os bens ou serviços (os objectos de medição) estão sujeitos a mudanças constantes, a ideia de uma medição absoluta torna-se impossível.
Assim, quando se diz que uma maçã custa 1 Euro e uma laranja custa 2 Euros, não significa que a laranja vale exactamente o dobro da maçã; o valor relativo pode variar conforme a oferta, a procura ou a percepção de valor – algo que definitivamente não pode ser medido; em que unidade se mede isso? Portanto, a ilusão de medir algo tão mutável quanto a economia é apenas mais uma ferramenta na vasta caixa de truques do positivismo.
Imaginemos uma economia onde existe apenas um bem: maçãs. A quantidade total de Euros em circulação é fixa, digamos 100 Euros, e a produção anual é de 100 maçãs, o que resulta num preço de mercado de 1 Euro por maçã. Com o tempo, o capital acumulado — em máquinas, fábricas, estradas, etc. — permite um aumento na produção, passando, por exemplo, para 110 maçãs por ano, um aumento de 10%. Agora, suponha-se que o banqueiro central lá do sítio decide imprimir mais 10 Euros.
Neste cenário, se a procura por maçãs e por dinheiro permanece constante, o preço de uma maça fixa-se novamente em 1 Euro. A democracia, com as suas métricas de “inflação” manipuladas, diria que não houve inflação, pois os preços não subiram – milagre, inflação 0%! Contudo, na realidade, houve uma inflação de 10% na oferta monetária, e os preços deveriam ter caído para 0,9 Euros por maçã, reflectindo o aumento na produção. O efeito real no bolso dos consumidores seria, portanto, uma maior capacidade de compra devido à maior oferta de bens, mas isso é ocultado pela taxa de inflação oficial que nos diz que os preços estão estáveis, sem variação!
Os preços não medem valores absolutos, mas apenas relações de troca. Suponhamos que, antes da putativa pandemia, uma consulta médica custava 80 Euros e um café 0,8 Euros, estabelecendo um rácio de troca de 100 cafés por consulta. Se a impressora do BCE provocar uma subida homogénea de preços de 50%, com a consulta agora a 120 Euros e o café a 1,2 Euros, o nosso médico manterá o mesmo poder de compra, desde que a inflação afecte de forma equitativa todos os bens e serviços que consome regularmente. Assim, uma inflação dos preços em 50% não impacta a sua vida.
A moderna teoria económica erroneamente afirma que os preços medem o valor. Na verdade, uma troca ocorre precisamente porque as partes envolvidas atribuem valores diferentes ao mesmo bem; se assim não fosse, a troca não aconteceria. Consideremos um agricultor com cinco cavalos homogéneos: o primeiro cavalo é destinado à necessidade mais urgente, como puxar um arado, enquanto o último pode ser usado para actividades menos urgentes, como passear. Assim, o valor de um bem depende da necessidade menos urgente que se deixa de atender, explicando por que o pão, essencial à sobrevivência, vale menos que a platina, um metal escasso reservado para necessidades muito específicas.
Imagine que estou num café na Av. da Liberdade, em Lisboa, e desejo tomar um café. Eu poderia preferir o café a 3,5 Euros; ou seja, até esse valor, dou mais importância ao café do que ao dinheiro. No entanto, se o café custar 1,5 Euros, aceito a transacção, pois está abaixo do meu limiar. Para o proprietário da cafetaria, o café, sendo abundante no seu inventário, não tem o mesmo valor; daí a troca ocorrer. O preço de 1,5 Euros é apenas uma relação de troca, uma intermediação entre serviços. Se eu viver de serviços de corretagem estou a trocá-los por um café, com o dinheiro a servir de intermediário dado que não satisfaz qualquer necessidade humana.
Convém destacar que a impressão de dinheiro simplesmente redistribui riqueza, sem criar valor real. Tomemos o exemplo de Alves dos Reis, que falsificava notas do Banco de Portugal e as gastava, por exemplo, exclusivamente em prostitutas; o preço deste “serviço” em Lisboa dispararia, uma vez que a sua preferência por dinheiro é diminuta, dada a sua fartura. Essa inflação de preços iria espalhar-se, afectando em primeiro lugar os bens preferidos das prostitutas e assim sucessivamente. Os primeiros a receber o dinheiro falso beneficiam-se dos preços não inflacionados, o que é notório nas subidas das cotações das acções e obrigações e nos preços do imobiliário nas últimas décadas, atendendo que o dinheiro impresso pelos bancos comerciais se dirigiu em grande medida para estes mercados.
Como é que o índice de preços capta o efeito das novas notas introduzidas pelo burlão Alves dos Reis? Qual é o real impacto da expansão da massa monetária? Qual o impacto da nova oferta, depois dos novos empreendedores de bordéis que, visando atrair este famoso cliente, decidem aumentar a oferta e a qualidade das suas “funcionárias”? Se subitamente o Alves dos Reis fosse convertido por um padre zeloso e perdesse o interesse pelos bordéis? Se estes serviços nem sequer constam do índice de preços, como captariam o impacto da nova massa monetária introduzida por Alves dos Reis?
Então, o índice de preços opera num universo paralelo, onde o surgimento de novos produtos de “qualidade superior” ao mesmo preço indica uma “redução” dos preços. Quais são os critérios? Se os proprietários dos bordéis introduzem novas “fantasias” ao mesmo preço, como quantificam o “desconto”? Quem é o iluminado que decide?
Na economia contemporânea, novos produtos inundam constantemente o mercado. Como comparar médias de preços ao longo do tempo se a própria “cesta” de bens muda constantemente? E quando os consumidores trocam carne de vaca por frango por ser mais barato, eliminando a primeira do índice? Não seria isto uma piada de mau gosto disfarçada de estatística?
Se há preços diferentes para quase todos os bens e novas variações surgem constantemente, como é o caso de ovos comuns e ovos “ecológicos”, ou ainda de diferentes marcas — quem garante que os burocratas do governo conseguem captar essas mudanças incessantes? Que critérios obscuros aplicam para medir essas variações? Será que têm alguma fórmula mágica para compreender as complexidades do mercado? Ou será que tudo isto é apenas uma ficção orquestrada, um jogo de sombras onde o preço é tão manipulável quanto o discurso de um político?
O índice de preços é um exercício de ilusionismo estatístico, ancorado na fantasia de uma cesta de bens fixa como unidade de medida. Não há qualquer método científico para se medir o “nível de preços”. O proprietário de uma casa, por exemplo, não se torna subitamente mais rico apenas porque o índice de preços das casas sobe — especialmente se não planeia vendê-la. O mesmo se aplica ao mercado de acções; um aumento num índice não transforma, magicamente, a prosperidade da população.
Falar de um “nível de preços” ou de uma “riqueza geral” para toda a economia é tão sensato quanto tentar medir o peso de um pensamento! Cada pessoa, cada família, cada região possui uma estrutura de preços única, com variações distintas no seu poder de compra. Pretender medir isso para toda uma economia é tão frutífero quanto calcular a “riqueza nacional” ao somar os preços de propriedades, títulos e acções e proclamar que isto, por si só, é o retrato da prosperidade de um país.
Por fim, é sempre um espectáculo hilariante assistir às conferências de imprensa de Christine Lagarde e Jerome Powell, onde nos revelam que a meta mágica é uma inflação de 2%. Por que não 1,9% ou 2,1%? São estas taxas inflacionárias heresias? Como é que estes “iluminados”, na verdade planeadores centrais, conseguem discernir as preferências temporais de milhões de consumidores para decretar se a taxa de juro será de 4% ou 5%? O cúmulo é ver liberais de pacotilha a defenderem tais burocratas, como se eles soubessem algo, quando na verdade nada sabem e esquecem-se que servem exclusivamente para roubar silenciosamente a população através do imposto mais pérfido de todos: a inflação!
Texto publicado originalmente em libertarios.pt