Considerando a importância da energia em qualquer economia e, em particular, os custos chocantes associados à chamada «transição energética» para as economias europeias, parece necessário rever a situação.
Em primeiro lugar, os preços da energia e da electricidade têm vindo a aumentar na UE há vários anos – por vezes exponencialmente – devido à implementação em curso do Green Deal [Pacto Ecológico] Europeu, dos objectivos da UE para 2030 e dos planos para atingir a neutralidade carbónica até 2050, em combinação com outros factores também puramente políticos. Estima-se que a política de transição energética e de zero emissões líquidas na Europa represente actualmente até 40% de muitas contas de electricidade dos europeus que já têm dificuldades em fazer face às despesas.
A «Policrise» É Agora a Desculpa para o Intervencionismo
Em «Turning the European Green Deal into Reality» (2023) da Strategic Perspectives — um grupo de reflexão sobre políticas centrado na UE e focado no clima que promove acções climáticas eficazes e a transição para emissões líquidas zero na Europa — afirma-se o seguinte:
Os decisores políticos da UE colocaram a Europa numa trajectória irreversível de descarbonização. Num continente com recursos limitados de gás e petróleo, os europeus não têm interesse em regressar ao status quo pré-guerra.
Que arrogância dos «ungidos» (para usar a expressão de Thomas Sowell) é necessária por parte de um think tank globalista não-eleito para afirmar subjectivamente tal direcção em nome de todos os povos europeus. Infelizmente, esta é a norma. Além disso, o resumo executivo afirma que não é apenas a mudança climática que está a impulsionar a transição energética actualmente, porque se trata de uma «policrise»:
A pandemia da COVID-19, a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a crise do custo de vida, bem como a concorrência industrial dos EUA e da China, não diminuíram a importância da agenda climática europeia. Pelo contrário, o Pacto Ecológico Europeu provou ser uma solução unificadora para as múltiplas crises que a Europa enfrenta, incluindo a recuperação económica da pandemia, as alterações climáticas, a elevada dependência energética da Rússia e a concorrência das tecnologias de zero emissões líquidas da China e dos EUA.
Sendo que o mantra das alterações climáticas por si só pode já não ser tão convincente, estão a ser apresentadas razões ou causas adicionais. Supostamente, são necessários gastos públicos massivos para salvar e transformar todo o tecido económico das sociedades europeias, não só por causa do CO2, mas também por causa da pandemia, da Rússia, do custo de vida e da concorrência industrial. Esta foi também a linha de argumentação defendida pelo plano Draghi, pelo qual a UE está encantada.
Tudo vale para justificar mais despesa pública e uma maior centralização do poder em Bruxelas. O que eles obviamente não vão mencionar é que todas estas crises foram geradas e criadas pelas acções desastrosas ou pela inacção desastrosa (dependendo do caso) da classe política europeia. Este é mais um exemplo da importância de compreender a causalidade na economia:
Parece contraintuitivo acreditar que um agente responsável por problemas sociais deva também ser aquele que resolve esses problemas. A única razão pela qual esta lógica errada continua a ser aceite é devido a erros de causalidade. As verdadeiras causas dos problemas económicos não são bem compreendidas pelo público em geral e são frequentemente confundidas com as suas consequências.
O Custo para Salvar a Europa Nunca É Demasiado Elevado
O Fórum Económico Mundial (FEM) tem vindo a pressionar há décadas para que sejam tomadas medidas contra as «alterações climáticas» e para a necessidade de uma transição energética que abandone os combustíveis fósseis, com os seus discursos globalistas em Davos e noutros locais. O FEM escreveu o seguinte em 2022, como sempre, tentando assustar o maior número possível de pessoas para que obedeçam à minoria dominante:
Não passa uma semana sem que seja publicado um novo relatório sobre o preço que o mundo terá de pagar se não reduzir rapidamente as emissões. Mas qual é o preço de realmente implementar a tecnologia para fazer essas reduções massivas?
A resposta é que o preço é impressionante. No que diz respeito à Europa, eles explicam:
O custo da transição para a energia limpa até 2050 será de US$ 5,3 biliões, de acordo com um novo relatório da BloombergNEF, especialista em investigação de baixo carbono. Este número impressionante representa 25% do PIB anual total da UE (2025).
Até mesmo o desvairado FEM sabe que este enorme nível de gastos — cerca de US$ 200 bilhões por ano durante 25 anos— pode não acontecer. Mas isso mostra claramente os planos absolutamente insanos que a oligarquia financeira e política ocidental tem para a Europa. O FEM e outras instituições globalistas como a UE estão constantemente a lembrar a todos que os gastos não estão a ser feitos com rapidez suficiente. O documento da UE “Concretizar o Pacto Ecológico Europeu – Progressos na consecução dos objectivos” resumiu-o da seguinte forma:
Este relatório apresenta uma avaliação abrangente dos progressos realizados no âmbito do Pacto Ecológico Europeu (PEE), a agenda transformadora da União Europeia para alcançar a neutralidade climática até 2050. […] O estudo mostra que, até agora, foram alcançados resultados significativos, mas que é necessário acelerar os progressos em muitos domínios. Em meados de 2024, 32 das 154 metas estão actualmente «no bom caminho» e 64 foram identificadas como «necessitando de aceleração», o que significa que são necessários mais progressos para cumprir as metas a tempo. Além disso, 15 das metas foram consideradas «sem progressos» ou «em retrocesso» e, para 43 das metas, não existem dados disponíveis actualmente.»
O relatório de Junho de 2025 intitulado «The State of Europe’s Climate Investment» (O estado do investimento climático na Europa), do Institute for Climate Economics — um influente think tank francês que se dedica à mitigação das alterações climáticas — quantificou o fosso para 2030:
Em 2023, os investimentos climáticos na UE atingiram 498 mil milhões de euros, muito abaixo dos 842 mil milhões de euros necessários, em média, por ano para cumprir as metas climáticas da UE para 2030, deixando uma lacuna de 344 mil milhões de euros.
O relatório afirma descaradamente que estas verbas são necessárias anualmente para cumprir os objectivos não científicos e arbitrariamente estabelecidos pela UE para 2030 (os quais, de resto, mudaram recentemente!). Tais objectivos baseiam-se em ameaças imprecisas e variáveis relativas ao aumento do CO2 e ao aquecimento global, e incluem a redução das emissões de gases com efeito de estufa em pelo menos 55% em relação aos níveis de 1990 e alcançar a neutralidade climática até 2050. O Pacto Ecológico Europeu e o Plano de Meta Climática 2030 apoiam esta meta, visando fazer da UE o primeiro continente climaticamente neutro.
A Complicada Questão de Quem Paga?
Embora os enormes custos associados aos planos de transição energética sejam casualmente mencionados nas citações acima, provenientes de agências governamentais e ONG e sem fornecerem grande contexto, a questão de quem paga é, ainda que fundamental, complexa. Não só as somas envolvidas na transformação social são de tal modo significativas que exigem múltiplas fontes de financiamento, como o processo é intrinsecamente complicado pela própria complexidade do mercado.
Assim, o custo global do sistema (não apenas quem paga antecipadamente) foi estudado em pormenor pelos planeadores globalistas. Políticas bem concebidas (como a fixação de preços do carbono) procuram tornar os custos difusos e tão dispersos quanto possível, sob a forma de externalidades menos facilmente detectáveis. Mas os planeadores globalistas não parecem preocupar-se com o verdadeiro impacto nas sociedades europeias, desde que isso promova o seu assalto ao poder.
A transição energética globalista está a ser financiada por uma combinação de investimento empresarial directo (alavancado ou mitigado pela despesa pública), despesa pública substancial da UE e nacional, e uma significativa transferência de custos para os consumidores de energia e contribuintes. A distinção entre “custo empresarial” e “custo público” é frequentemente artificial ou intencionalmente obscurecida, porque os investimentos empresariais dependem frequentemente do apoio público (subsídios, garantias, sinais de preços do carbono). E a despesa pública visa frequentemente alavancar o capital privado, como deixa claro o Plano Letta, que é um dos documentos que orienta Bruxelas. Como o relatório afirma claramente: “será necessário dirigir toda a energia para o apoio financeiro da transição, canalizando todos os recursos públicos e privados necessários para este desígnio… A prioridade inicial deveria ser mobilizar o capital privado.”
Enquanto as empresas investem e as agências governamentais gastam, uma parte significativa do custo acaba por recair sobre os cidadãos na sua qualidade de consumidores, como se viu acima (através dos impactos nas suas facturas) e contribuintes (tendo de financiar subsídios e infra-estruturas quer através de novos impostos, quer pelo redireccionamento das receitas fiscais existentes). Muito é feito, portanto, em termos de marketing e comunicação da UE e de grupos de reflexão (isto é, propaganda sofisticada), para condicionar o público europeu a aceitar custos mais elevados, primeiro na energia e electricidade, mas em última análise nos preços da maioria dos bens. Está implícito que é para o seu próprio bem (para salvar o mundo). Além disso, a maior parte do investimento público é agora financiada por dívida, empurrando os custos para os futuros contribuintes, o que leva a opinião pública actual a aceitar mais facilmente os programas. De facto, a maioria de hoje é composta pelos futuros avós daqueles que sofrerão as consequências sociais e económicas a longo prazo destas políticas.
Chamando as Coisas Pelo Nome: Capitalismo Fascista Globalista
O que foi acima descrito corresponde a um intervencionismo maciço, levado até ao extremo do capitalismo fascista — um sistema no qual bancos, empresas e interesses estatais se entrelaçam, impulsionados pelo projecto globalista numa relação coerciva e corrupta de dependência. A Liberdade—tanto política como económica—é a vítima óbvia, como um número crescente de europeus começa a aperceber-se.
O que não é claro é o verdadeiro valor acrescentado para as sociedades europeias destes programas de despesa massiva. Não só o custo directo de fazer negócios na Europa aumentará em geral, como serão inevitavelmente criadas distorções nas economias europeias, favorecendo determinados sectores e regiões à custa de outros, por mais que os planeadores globalistas se esforcem por declarar uma distribuição uniforme dos custos. Alguns empresários espertos estão, é claro, a beneficiar abundantemente. Alguns sectores—como as energias renováveis, baterias, renovação de edifícios, IA e veículos eléctricos—estão a receber um impulso considerável, enquanto outros sectores e negócios considerados sem importância ou prejudiciais para a transição energética irão sofrer.
Sendo que o mercado europeu demonstra pouca procura natural por esta transformação energética ou pelos bens a ela associados, a utilidade social e económica deste plano pode ser seriamente questionada. No conjunto, estes programas irão sobrecarregar as sociedades europeias com custos ainda maiores—e custos completamente desnecessários—num ambiente de forte concorrência de outras partes do mundo, como os EUA e a China.
Estes planos de despesa massiva têm vindo a ser implementados há já vários anos e não podem ser detidos, visto que a vontade política para lhes resistir e o incentivo económico para os abraçar são simplesmente demasiado fortes. Os europeus obviamente não têm muito (se é que têm alguma) palavra a dizer no assunto, uma vez que estas decisões são tomadas de cima para baixo e de forma não democrática pela oligarquia ocidental representada pela Comissão Europeia e pelo Conselho Europeu. Quase não há um único partido político na Europa que esteja a fazer oposição a estes planos, porque isso seria suicídio político quando a torneira está aberta.
Como se o ambiente económico actual e sombrio na Europa não bastasse, estas políticas vão sobrecarregar os europeus com ainda mais dívida num futuro previsível, para não falar da inflação de preços, descoordenação de preços e distorções na estrutura de produção. Isto irá criar crescimento artificial durante algum tempo, mas tornará as empresas europeias ainda menos competitivas. Isto é uma receita de longo-prazo para o contínuo declínio europeu.
Artigo publicado originalmente no Mises Institute.