Recentemente, o membro sénior do corpo docente do Mises Institute, Tom Woods, conversou com Kevin Dolan, fundador da Natal Conference. Este encontro ecléctico proporcionou uma oportunidade para aqueles preocupados com a queda das taxas de fertilidade em todo o mundo discutirem a natureza, as causas e as consequências dessa realidade.
A economista e autora de Hannah’s Children: The Women Quietly Defying the Birth Dearth (“Os Filhos de Hannah: as Mulheres que Desafiam Silenciosamente a Escassez de Nascimentos”), Catherine Pakaluk, proferiu um discurso intitulado «Pronatalistas, antinatalistas: agora somos todos malthusianos». Nesse discurso, fez a observação perspicaz de que tanto os antinatalistas quanto os pronatalistas caem numa compreensão excessivamente simplista da escolha da fertilidade. Em suma, cada posição política baseia-se numa visão da natalidade que defende que «mais recursos para as famílias, mais bebés». Ela considera os que defendem esta visão como «natalistas por defeito», que acreditam que, para maximizar o número de filhos, devemos maximizar os recursos familiares. Ironicamente, uma das críticas da esquerda à Conferência Natal, feita pela revista Jacobin, instigou os participantes a que, se realmente queriam mais bebés no planeta, então que defendam a expansão do Estado Social! De facto, a Coreia do Sul e a Hungria fizeram exactamente isso e têm muito poucos resultados a mostrar.
Contudo, essa suposição sobre a gravidez demonstra uma visão determinista do comportamento humano que nega a acção deliberada. Pakaluk reconhece que a gravidez deve ser vista como uma forma de acção humana. Ela observa que,
Sempre que as pessoas tenham acesso a meios para reduzir os nascimentos, hoje em dia, parecem optar por o fazer. Adoptar a noção de que as pessoas querem fundamentalmente ter filhos leva-nos a uma posição absurda de que as pessoas mais livres, mais ricas e com maior capacidade reprodutiva da história não foram capazes de agir de acordo com a sua inclinação biológica para ter filhos. Se ter filhos é um instinto ou uma inclinação constante do animal humano, somos certamente a espécie menos funcional do planeta.
Ela continua:…
É muito mais sensato concluir que ter filhos é um acto e um hábito para indivíduos e sociedades. É um modo de excelência humana governado pela explicação clássica da acção humana, a parte racional do animal racional. As pessoas escolhem fazer uma coisa porque querem que o seu objecto seja percebido por elas como bom.
Uma afirmação muito misesiana, se é que alguma vez houve uma!
Ela desenvolve ainda mais a lógica da escolha humana em relação à gravidez, lembrando aos seus ouvintes que:
Primeiro, as pessoas são agentes racionais… a preferência revelada [ou demonstrada] é o indicador mais importante do que as pessoas querem e precisam e de como avaliam o valor relativo das coisas. A utilidade [percebida] dos filhos entrou em colapso… os custos de oportunidade aumentaram.
Este estado de coisas levou a um colapso na procura por filhos em todas as partes do mundo, mesmo em regimes supostamente «pro-natalistas».
Por fim, encoraja aqueles que estão preocupados com as consequências do colapso da fertilidade: «O que actualmente supera de forma confiável esse cálculo é a convicção pessoal de que os filhos são desejáveis — desejáveis por si mesmos».
A afirmação de Pakaluk parece canalizar Joseph Schumpeter. Ele previu que essa atitude prevaleceria no seu livro de 1942, Capitalismo, Socialismo e Democracia. Previu que, “assim que introduzirem na sua vida privada uma espécie de sistema inarticulado de contabilidade de custos, não poderão deixar de se dar conta dos pesados sacrifícios pessoais que os laços familiares e, especialmente, a paternidade, acarretam nas condições modernas”.
Mas quais são essas condições modernas a que Schumpeter se refere? Pakaluk aponta para o declínio no tamanho ideal da família, que começou no final da década de 1960. Alguns leitores podem pensar que foi a revolução sexual que impulsionou esse novo conjunto de preferências. Em vez disso, ela defende a importância, naquela época, de um choque tecnológico fundamental: o controlo da natalidade.
Aqui, é vital recordar que os avanços tecnológicos provêm da mente humana. Este facto levanta a questão: que condições levariam tanto as mulheres como os homens a aceitar e adoptar múltiplas formas de controlo da natalidade, desde profiláticos, a pílula e o aborto? O uso de contracepção é uma tentativa de reduzir os custos a longo prazo da actividade sexual e maximizar os benefícios a curto prazo — pura e simplesmente. Então, o que é que impulsiona o pensamento a curto prazo? Altas taxas de preferência temporal. Em termos ainda mais simples, os avanços tecnológicos não surgem do nada. Eles emergem de actores humanos que acreditam que o uso de certos meios cria uma situação preferível, dadas as condições gerais de vida que os cercam — incluindo a cultura predominante.
Além disso, é a cultura da inflação que impulsiona horizontes temporais mais curtos. Nessa cultura, o desenvolvimento tecnológico da contracepção moderna é eminentemente racional. Ter e criar filhos é uma escolha deliberada, e a natalidade requer horizontes temporais mais longos e preferências temporais mais baixas. É menos provável que tal disposição prevaleça na cultura da inflação.
É o ser humano atormentado pela inflação que procura e prefere o consumo e o prazer a curto prazo. E as pessoas envolvidas na cultura da inflação tendem a desconsiderar os compromissos de longo prazo — exactamente o que as crianças precisam. No outono de 2023, Guido Hülsmann resumiu sucintamente o homem da cultura da inflação como «materialista, míope, reducionista, superficial e servil».
Essas características — quando adoptadas por toda uma cultura — certamente são menos propensas a escolher propositadamente investir no cuidado e no investimento de longo prazo que as crianças precisam. Felizmente, Pakaluk dissuadiu o seu público da teoria malthusiana de “entradas e saídas de crianças”mais insumos, mais crianças”. A sua ênfase no choque tecnológico do controlo da natalidade que levou a um declínio na procura por crianças é clara, convincente e precisa.
No entanto, é a cultura da inflação que leva ao aumento do “curto-prazismo” e à desvalorização do longo prazo e, em última análise, a uma forma de racionalidade que dá origem a tecnologias que demonstram que as pessoas em todo o planeta desvalorizaram as crianças à luz das outras alternativas disponíveis.
Artigo publicado originalmente no Mises Institute.