A popularidade do outrora mui respeitado “multiplicador” encontra-se hoje em dia desvanecida, uma vez que os economistas começaram, felizmente, a perceber que ele representa simplesmente o reverso de uma função consumo estável. Todavia, ainda não se tomou plena consciência da completa absurdidade do multiplicador. A teoria do “multiplicador do investimento” funciona basicamente como se segue:
Rendimento da Economia = Consumo + Investimento
O Consumo é uma função estável do rendimento, conforme revelado por correlação estatística, etc. Suponhamos, por simplicidade, que o Consumo representará sempre 0,8 x (Rendimento).1 Nesse caso,
Rendimento = 0,8 x (Rendimento) + Investimento.
0,2 x (Rendimento) = Investimento; ou
Rendimento = 5 x (Investimento).
O “5” é o “multiplicador do investimento”. Parece óbvio, portanto, que tudo o que precisamos para aumentar o rendimento monetário da economia num determinado montante é aumentar o investimento em 1/5 desse montante e a magia do multiplicador fará o resto. Os primeiros “impulsionadores”/“estimuladores” acreditavam que se deveria abordar este objectivo através de um estímulo ao investimento privado; os keynesianos mais recentes perceberam que, ao passo que o investimento é um factor “activo” volátil, a despesa pública não é menos activa mas é mais certa, pelo que se deve confiar na despesa governamental para proporcionar o efeito multiplicador necessário. A criação de dinheiro seria a via mais eficaz, uma vez que assim o Governo teria a certeza de não reduzir os fundos privados. Daí que se tenha passado a chamar “investimento” a todas as despesas governamentais: é “investimento” porque não se encontra passivamente ligado ao rendimento.
O que se segue é proposto como um “multiplicador” muito mais potente – desde uma perspectiva keynesiana, é ainda mais potente e eficaz do que o multiplicador do investimento e, desde uma perspectiva keynesiana, nada se lhe poderá obstar. É uma reductio ad absurdum, mas não é uma simples paródia, pois está em conformidade com o método keynesiano.
Rendimento da Economia = Rendimento de (inserir nome de uma pessoa qualquer, digamos o leitor) + Rendimento do resto das pessoas.
Usemos símbolos:
Rendimento da economia = Y
Rendimento do leitor = L
Rendimento do resto das pessoas = R
Constatamos que R é uma função completamente estável de Y. Se os traçarmos a ambos em coordenadas, encontramos uma correspondência histórica de um-para-um entre eles. É uma função tremendamente estável, muito mais estável do que a “função consumo”. Por outro lado, representemos também L face a Y. Aqui encontramos, em vez de uma correlação perfeita, apenas a mais remota das ligações entre o rendimento flutuante do leitor destas linhas e o rendimento da economia. Portanto, o rendimento deste leitor é o elemento activo, volátil e incerto do rendimento da economia, enquanto o rendimento do resto das pessoas é passivo, estável, determinado pelo rendimento da economia.
Suponhamos que a equação a que se chega é a seguinte:

Este é o multiplicador pessoal do leitor, um multiplicador muito mais poderoso do que o multiplicador do investimento. Para aumentar o rendimento social e assim curar a depressão e o desemprego, só é preciso que o governo imprima um certo número de dólares e os entregue ao leitor destas linhas. As despesas do leitor “impulsionarão” um aumento de 100.000 vezes do rendimento nacional.1
- Na verdade, a forma da função keynesiana é geralmente “linear”, por exemplo, Consumo = 0,8 x (Rendimento) + 20. A forma proposta no texto simplifica a exposição sem, no entanto, alterar a sua essência. ↩︎
- Ver também Henry Hazlitt, Failure of the “New Economics”, pp. 135–55. ↩︎
Originalmente publicado na página Lei dos Mercados. Original inglês disponível aqui. (Excerto de “Man, Economy and State”).