Há uma notável confusão no debate moderno sobre fontes de energia. Com base em considerações geológicas e não em considerações económicas, as fontes de energia e algumas matérias-primas são consideradas como “Renováveis” ou “Não Renováveis” – e a primeira é, de certa forma, muito preferida à segunda.
Todos nós já ouvimos versões da seguinte história: a utilização de fontes de energia não renováveis e a escavação de metais não renováveis foram o que impulsionou a Revolução Industrial e o desenvolvimento das nossas ricas economias e sociedades contemporâneas – mas são fisicamente limitadas e finitas, vão “esgotar-se” e a sua utilização é “insustentável” (cujo significado está longe de ser claro).
Num sentido trivial, isto é obviamente verdade: os ambientalistas anti-capitalistas estão superficialmente correctos quanto à inexistência de um Planeta B e à impossibilidade de um crescimento infinito do consumo material. Mas também é, como explica Tim Worstall, “totalmente sem importância”. Ao comparar a utilização de recursos finitos com a comida no frigorífico, Worstall rebenta com a “Falácia do Pequeno-Almoço” – a convicção de que, uma vez consumido o pequeno-almoço de hoje do frigorífico, este desapareceu e, consequentemente, não há mais pequeno-almoço:
“Nesse primeiro caso, concordaríamos com Worstall: tomar o pequeno-almoço significa não ter pequeno-almoço no frigorífico. Também concordaríamos que Worstall está louco porque sabemos que existe uma vasta indústria dedicada exclusivamente a repor esse pequeno-almoço antes das 7 da manhã de amanhã.”
É certo que, tal como os alimentos no frigorífico, o consumo “insustentável” de matérias-primas significa que estas se esgotam. Mas também, precisamente como a comida no frigorífico, repomos as matérias-primas de que necessitamos, tornando o consumo “insustentável” de alimentos bastante sustentável. Como é que isto é possível?
Uma vez que “quase ninguém que não seja economista acredita” nesta noção contra-intuitiva, vamos examiná-la mais aprofundadamente.
Como É Que os Recursos Não-Renováveis Não Se Esgotam
Em 1944, as reservas mundiais de petróleo comprovadas eram de 51 mil milhões de barris de petróleo. Em 2018, as reservas mundiais comprovadas de petróleo eram de quase 1500 mil milhões (a BP estima que sejam 1730 mil milhões), ou seja, cerca de trinta vezes mais do que em 1944 – e isto apesar do apetite voraz da humanidade por petróleo durante as sete décadas intermédias. Qualquer pessoa imersa na ingénua teoria do esgotamento dos recursos tem de se perguntar, incrédula – como é que isto é possível?
Resumindo: encontrámos mais.
Os mercados com direitos de propriedade bem definidos utilizam os preços e as motivações de lucro para orientar a afectação de recursos – incluindo, neste caso, os recursos de investimento que são utilizados na prospecção de petróleo ou na escavação de metais no solo. Os mercados utilizam os preços para transmitir informações sobre a disponibilidade actual e futura de matérias-primas – com a inovação a permitir-nos encontrá-las, extraí-las e utilizá-las de forma mais eficiente e a substituição a regular a nossa procura.
A qualquer dado momento, existe algum petróleo armazenado, algum petróleo comprovadamente (mas ainda não extraído) no solo, algumas bolsas plausíveis de petróleo e gás natural que os geólogos de vários empreendimentos estão a prospectar – e uma grande porção desconhecida de reservas de petróleo cuja quantidade e localização ninguém conhece. Todas estas acções (utilização, distribuição, armazenamento, extracção, prospecção) são regidas e reguladas pelo preço de mercado do petróleo. Se, como sugere a teoria do esgotamento dos recursos, esgotássemos as nossas reservas conhecidas de petróleo e de matérias-primas, os seus preços de mercado subiriam – enviando um sinal palpável a todos os actores do mercado. Três coisas acontecem então:
- Com preços de mercado mais elevados, os poços anteriormente não económicos (ou as bolsas de petróleo conhecidas que anteriormente eram demasiado caras para extrair) tornam-se agora disponíveis. Não fisicamente disponíveis, note-se – eles sempre estiveram lá – mas economicamente disponíveis, que é o que realmente importa. A chamada revolução do gás de xisto é um excelente exemplo disso.
- Com preços de mercado mais elevados, os consumidores reduzem a sua utilização e começam a racionar o petróleo – talvez mudando para carros mais pequenos ou melhorando a eficiência energética das suas casas.
- A reciclagem de materiais torna-se um empreendimento rentável quando os preços de mercado do material aumentam. O cobre já utilizado nas linhas eléctricas pode ser substituído por um material relativamente mais barato, enquanto o próprio cobre é reciclado para ser revendido em diferentes linhas de produção. Isto poderá não funcionar tão bem para combustíveis como o petróleo, em que o consumo altera a composição química do material – embora as iniciativas de captura de carbono sugiram que tal poderá não ser impossível.
Um artigo recente da Bloomberg resume a questão:
“Os economistas ensinam-nos que os recursos não se esgotam simplesmente. Quando algo se torna mais escasso, o seu preço aumenta, desencadeando a procura de novas fontes ou a descoberta de substitutos.”
Embora seja verdade que a Terra, enquanto tal, tem uma quantidade finita de petróleo, cobre ou minério de ferro, a fracção que é realmente descoberta é desconhecida – e tem de ser desconhecida, pelo menos até encontrarmos a última gota disponível. Mas mesmo que toda a reserva mundial de petróleo ou de cobre fosse reunida num grande reservatório fixo, como Harold Hotelling supôs em 1931, ainda assim não se esgotaria. O segundo ponto acima, que funciona através do mecanismo de preços, continuaria a funcionar e a racionar o nosso uso, incentivando a adopção de substitutos.
…Mas as Energias Renováveis Sim
O contraste notável com este ponto é a reverência frequentemente dada às chamadas energias renováveis, ou seja, às fontes de energia que não se esgotam. O exemplo ideal é o Sol, que incessantemente bombardeia a Terra com mais energia do que alguma vez precisaremos. Outros exemplos incluem a utilização de processos naturais, desde as intermináveis marés do oceano ou o sopro do vento ou a actividade vulcânica até ao crescimento das florestas ou à reprodução dos animais. Alguns destes processos são verdadeiramente “renováveis”, na medida em que as suas fontes nunca se esgotam (vento, energia térmica, oceano, sol), mas têm problemas bem conhecidos de captura, escala, armazenamento e distribuição.
Outras fontes renováveis esgotam-se de facto; os rios que secaram arruinaram as barragens hidroeléctricas renováveis construídas sobre eles; as florestas, eufemisticamente designadas por “biomassa”, são cortadas e “renovavelmente” queimadas como combustível – mas, na verdade, depender delas como fonte de energia moderna significa desflorestação total e, portanto, não há florestas para cortar amanhã; a caça à baleia para obtenção de óleo encontrou o seu limite ecológico “renovável” na década de 1860, quando as baleias facilmente acessíveis se esgotaram (leia-se: foram mortas). Mesmo a energia eólica, uma fonte inesgotável de energia, pode muito bem deparar-se com limitações semelhantes. Ignorando os problemas técnicos de armazenamento e distribuição acima mencionados, com factores de capacidade de 35%, precisaríamos de quase 500 milhões de turbinas padrão de 3MV para que a energia eólica cobrisse apenas 10% das actuais necessidades energéticas mundiais – isto é, 1200 vezes mais turbinas eólicas do que o mundo tem actualmente. O espaço físico não renovável pode esgotar-se.
Portanto, embora tenhamos um planeta fisicamente finito e uma quantidade geologicamente limitada de, digamos, metais de terras raras (ou o que quer que seja que a última moda da histeria ambiental possa invocar), o ponto económico a reter é que os recursos não renováveis, de facto, não se esgotam. No seu popularíssimo livro de 1981, The Ultimate Resource, Julian Simon mudou para sempre a forma como muitas pessoas pensam sobre recursos e matérias-primas. Simon salientou que:
“Ao longo da história, até este preciso momento, o cobre e outros minerais têm vindo a tornar-se menos escassos e não mais escassos, como a teoria do esgotamento implica… os recursos naturais não são finitos em qualquer sentido económico significativo, por muito surpreendente que esta afirmação possa ser.”
A avaliação de Simon há quase quarenta anos continua a ser verdadeira hoje em dia: as matérias-primas tornaram-se mais abundantes, não mais escassas – ao contrário do que os teóricos do esgotamento querem fazer crer. Enquanto que as fontes de energia renováveis se esgotam – muitas vezes como resultado de direitos de propriedade insuficientes – os recursos não renováveis não se esgotam. A conclusão de mais de um século de extracção de matérias-primas pode, portanto, ser resumida da seguinte forma: queimem o que quiserem – encontraremos mais.
Artigo publicado originalmente no Mises Institute.