O facto de muitos políticos de carreira serem mentirosos descarados e compulsivos não é apenas uma característica inerente à classe política; é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, apenas os mentirosos demagogos podem satisfazê-las.
No entanto, quando a realidade se impõe e os efeitos económicos de medidas populistas começam a cobrar o seu preço, os eleitores finalmente percebem que foram enganados. E então começam a reclamar que os demagogos os enganaram e venderam ilusões.
Essas pessoas são as mesmas que, no passado, não apenas acreditaram piamente nas promessas dos demagogos, como também ignoraram rispidamente todos os alertas, feitos pelos mais sensatos, de que determinadas políticas populistas eram insustentáveis e cobrariam um alto preço no futuro.
Pessoas que se recusam a aceitar verdades desagradáveis quando estas são ditas em épocas de bonança não têm direito de, no futuro, reclamar que os políticos mentiram e que elas foram enganadas. Afinal, com essa mentalidade, que outro tipo de candidato essas pessoas elegeriam?
O domínio da arte
Uma das principais mentiras do estado social-democrata é a noção de que o governo pode dar às pessoas coisas que elas desejam, mas que não conseguem pagar.
Dado que o governo não produz riqueza, não tem receitas próprias e se mantém por meio do confisco dos recursos das pessoas, então, por uma questão de lógica, se as pessoas como um todo não podem pagar algo, tão-pouco pode o governo.
Se vota em políticos que lhe prometeram dar benesses pagas com o dinheiro confiscado de terceiros, você não tem nenhum direito de reclamar quando esses mesmos políticos resolverem pegar no seu dinheiro para redestribuí-lo a terceiros, inclusive para eles próprios.
Existe, é claro, a imortal falácia de que o governo pode simplesmente aumentar os impostos sobre “os ricos” e utilizar a suposta receita adicional para pagar por coisas que a maioria das pessoas não consegue comprar. O que é incrível nesse raciocínio é a sua implícita suposição de que “os ricos” são todos tão idiotas, que não farão nada para evitar que seu dinheiro seja tributado.
Em nenhum país ocidental os ricos arcam exclusivamente com os impostos; quem realmente fica com o grande fardo é a classe média. Não há, em nenhuma sociedade, um número grande o suficiente de ricos que possam custear sozinhos os gigantescos gastos efetuados pelos estados assistencialistas ocidentais. [Para entender em mais detalhe por que aumentar a tributação sobre “os ricos” gera um efeito contrário ao pretendido, leia este artigo(ligação externa)].
Na economia global actual, os ricos podem simplesmente investir o seu dinheiro em países onde as taxas de imposto são menores. Basta um clique no computador, e as fortunas vão embora para outros países.
Então, se não se pode confiar que “os ricos” paguem a conta, no que podes confiar? Nas mentiras.
Nada é mais fácil para um político do que prometer benefícios governamentais que não poderão ser cumpridos.
A Segurança Social é perfeita para essa função. As promessas são feitas com base em dinheiro que só será pago daqui a várias décadas — sendo que, até lá, outra pessoa estará no poder com a tarefa de inventar o que dizer e fazer quando descobrir que nunca existiu tal dinheiro e a revolta social começar.
Haverá o calote, sim, mas existem, no entanto, várias formas de adiar o dia do acerto final. O governo pode, por exemplo, começar a restringir vários benefícios daqueles grupos que são menos influentes politicamente. Irá começar por dar pequenos calotes naqueles grupos que têm menos poder político e pouco poder eleitoral. E depois vai começar a aprofundar.
Nos EUA, o governo vai começar a cortar o Medicare (programa de responsabilidade da Segurança Social americana que reembolsa hospitais e médicos por tratamentos fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade) e o Medicaid (programa financiado conjuntamente por estados e pelo governo federal, que reembolsa hospitais e médicos que fornecem tratamento a pessoas que não podem financiar suas próprias despesas médicas)
É apenas uma questão de tempo. O facto é que todos esses problemas de longo prazo irão, eventualmente, desafiar as belas e sonoras mentiras que são a força vital das políticas de bem-estar social. Mas ainda irão ocorrer muitas eleições entre hoje e o dia do acerto final — e aqueles que são profissionais na arte da mentira ainda irão vencer muitas dessas eleições.
E, enquanto o dia do ajuste de contas não chega, há diversas maneiras de aparentemente superar esses problemas. Se a arrecadação do governo não estiver a acompanhar o ritmo do seu aumento de gastos, o governo pode insistir no aumento do endividamento. Mas mesmo esta política é limitada, pois chegará um ponto em que a dívida estará tão alta, que os investidores deixarão de confiar na capacidade do governo de honrá-la. E aí os juros subirão.
Outra alternativa é imprimir mais dinheiro. Isso não torna nenhum país mais rico, mas insidiosamente transfere parte do poder de compra da população — bem como a poupança e o rendimento das pessoas — para o governo e seus protegidos, gerando uma redistribuição de rendimento às avessas. Imprimir mais dinheiro significa inflação — e a inflação é uma mentira discreta, através da qual o governo pode manter as suas promessas no papel, mas com um dinheiro cujo poder de compra é muito menor do que aquele que vigorava quando as promessas foram feitas.
Sem surpresa
Promessas sublimes sobre “justiça social” e “igualdade” não passam de estratagemas feitos para aumentar o poder de políticos, uma vez que tais belas palavras não possuem nenhuma definição concreta. Elas não são nada mais do que um cheque em branco para criar uma gigantesca disparidade de poder que, em comparação, ofusca completamente as disparidades de rendimento — e é muito mais perigosa.
Quem não entende o completo cinismo que existe na política não entende nada de política.
De novo: será que é realmente tão surpreendente que eleitores com expectativas fantasiosas e irreais elejam políticos que mentem descaradamente sobre serem capazes de cumprir tais fantasias?
Artigo publicado originalmente no site do Instituto Mises Brasil.