o que é e como combatê-lo
Privilégio fiat é um conceito que sublinha a injusta vantagem social que as pessoas próximas da impressora de dinheiro têm sobre as pessoas que poupam.
Com raízes na “inveja da Física”1 que predominou na macroeconomia do século XX e na financeirização generalizada tornada possível pela ruptura da ligação do dólar ao ouro, o privilégio fiat desenvolveu-se em circunstâncias que procuraram amplamente proteger os interesses daqueles que mais directamente beneficiam do inflacionismo inconsciente.
O privilégio fiat denota as vantagens passivas óbvias e menos óbvias que as pessoas de proximidade podem não reconhecer que têm, o que o distingue do autoritarismo aberto e da repressão financeira. Estas incluem a afirmação cultural do seu próprio valor e contribuição para a sociedade; o seu presumido maior status social; e uma taxa de crescimento da sua riqueza acima da taxa de inflação. O privilégio fiat está amplamente difundido, é inegável e existe em todos os principais sistemas e instituições que operam na sociedade, bem como a um nível interpessoal.
Para pessoas que nunca ouviram o termo antes, o privilégio fiat pode evocar reacções defensivas e até de indignação. Este conceito foi apelidado de “fragilidade fiat”, e as reacções podem variar desde: medo, evasão, atitude defensiva, desconforto, e até reacções mais extremas, como a vergonha, a agressão dissimulada, a intolerabilidade, a invalidação, e o uso do privilégio como arma. Por outro lado, para alguns, a ideia de que uma pessoa possa ter privilégios especiais apenas devido à sua proximidade com a impressora de dinheiro é uma constatação perturbadora e pode suscitar sentimentos de vergonha, culpa e confusão. Se você é um inflacionista e sente que o conceito de privilégio fiat não se adequa si, provavelmente está enganado. Pessoas próximas muitas vezes sentem a necessidade de justificar2 o seu privilégio fiat, mas a negação do privilégio fiat geralmente é evidência de privilégio fiat.
O privilégio fiat é uma vantagem que protege as pessoas de proximidade contra qualquer forma de discriminação relacionada com a sua capacidade de produzir bens e serviços pelos quais outros trocarão livremente. O privilégio fiat, contudo, não implica que os inflacionistas não tenham sido ou não possam ser produtivos. Significa apenas que é muito mais fácil para uma pessoa de proximidade evitar ser produtiva. Os inflacionistas tendem a assumir a universalidade das suas próprias experiências – trabalhar para um banco de investimento ou uma organização sem fins lucrativos, ou ensinar economia numa universidade, ou, por exemplo, protestar contra o uso de energia ou famílias numerosas – enquanto que as pessoas de poupança são designadas por “os outros” numa base diária, e são forçadas a navegar um mundo que não foi projectado para elas.
Não é incomum que o privilégio fiat se torne tão arraigado na experiência vivida de uma pessoa de proximidade que possa evoluir para aquilo que os estudiosos chamam de “supremacia fiat” – a falsa narrativa de que pessoas de proximidade são na verdade melhores que pessoas de poupança e acrescentam mais valor para a sociedade. Esta narrativa está enraizada na falsidade histórica de que o dinheiro fiat é superior a outros tipos de dinheiro. Esta falsidade é produto de um sistema educativo sistemicamente inflacionista e funciona para preservar o privilégio fiat.
O aspecto mais prejudicial da supremacia fiat é a crença na possibilidade da “neutralidade epistémica de Cantillon” – que não se pode ser nem inflacionista nem anti-inflacionista. Este é um privilégio fiat par excellence. Na realidade, se você não for abertamente anti-inflacionista, você é um inflacionista.
Ao invés, se preferir ser um aliado anti-inflacionário, você precisa de assumir a responsabilidade pelos seus privilégios, pelos seus erros e pela sua educação.
Notas do tradutor:
- Um termo em inglês que significa uma éspecie de “ressabianço” das ciências sociais ou comportamentais (soft) contra as ciências exactas ou naturais (hard). A pseudo-economia keynesiana foi a maior consequência deste complexo de inferioridade. A Verdade foi a sua maior vítima. ↩︎
- Original “fiatsplaining”, um termo que evoca o termo “mansplaining” ↩︎
O artigo original em inglês foi publicado no Medium do autor. Os destaques são do tradutor.