Quem tenta fazer compromissos, esperando o ganho político, cede a autenticidade (o que o distingue) e anula-se.
Premissas:
- O Mundo político dos Homens tem uma elevadíssima complexidade;
- A pressão do ganho político rápido, incentiva a simplificar posições de modo a ser-se popular;
- O Populismo é uma posição de obtenção de apoio a quase qualquer custo, privilegiando a simplificação e comunicação de fácil apreensão pelas massas;
- Quando nos queremos tornar populares, tentamos criar uma redoma simplificada, de fácil compreensão popular, que produzimos com as simplificações. Essa bolha limita-nos a capacidade de acção, ou seja, é a chamada “armadilha do populismo”.
A posição Libertária pode ser contra-intuitiva para um grande número de pessoas, e é intelectualmente difícil de simplificar em chavões populistas. Três exemplos claros para o facto:
- Explicar como a fixação do preço do salário mínimo provoca a miséria geral dos trabalhadores, e serve para entregar poder ao patronato e estado, não é compreensível para a maioria da população presa no buonismo da pretensa defesa dos trabalhadores da propaganda estatista;
- Explicar que o Estado-Social ou de Providência é uma armadilha destrutiva da capacidade criativa, autonomia e solidariedades naturais do colectivo, é incompreensível para a maior parte, habituada a aceitar a “solidariedade” estatal que visa de facto, criar dependentes, e perpetuar o poder socialista, também não é facilmente aceite. É mesmo liminarmente recusado;
- Explicar que é mais fácil ser-se contratado quando é mais fácil ser-se despedido, não é compreendido pela maioria que foi ensinada a ver a chamada “flexibilidade laboral” como o “demónio do neo-liberalismo selvagem”.
Assim, e à partida, os libertários vêem-se na posição desconfortável de ter a sua oferta política com naturais dificuldades de comunicação, aceitação e massificação.
E a tentação do populismo instala-se, pois não apenas, não vivemos para sempre, mas gostamos também de ver resultados rápidos. Pensamos também que é uma questão de “chegar ao poder por qualquer meio”, e depois “logo se vê porque somos diferentes dos restantes”.
Como bem sabemos, os fins não justificam os meios, e só se subverte os princípios uma vez, ou seja, na primeira, e depois desta, já os abandonámos.
Face à dificuldade, e tal como sabem todas as “autoridades” (os “mais velhos” do Libertarianismo que já por aqui andam há muito tempo) o Mundo nem muda num dia, nem nós somos eternos. Mas devemos ter a posição de longo-prazo. E a posição de longo-prazo, tem necessariamente de passar pela fidelidade aos princípios e valores, muito estudo e reflexão, capacidade de paciência, e termos a perspectiva de que o processo de divulgação e aceitação do Libertarianismo deve ser de resistência e multi-geracional, sobretudo num ethos político geral de socialismo vincadamente inculcado na crença das populações.
Nós não forçamos alguém, nem ludibriamos como os políticos habituais.
Estamos, portanto, a agir hoje, devendo ter em perspectiva dezenas, ou mesmo, centenas de anos no futuro.
Isso é difícil?
– Sim, é. A posição libertária é difícil – sobretudo – para os libertários, mas pode ser também um grande gosto, pois quando ganhamos a mente, o coração e a alma de um novo libertário, estamos a ganhar um poder de intervenção na criação de um Mundo melhor, infinitamente mais sólido que a banhada socialista.
Portanto, corações ao alto, força, persistência, e integridade. Se perdermos o Purismo, num instante tornamo-nos aquilo de que não gostamos, ou seja: mais um bunch de socialistas e desperdiçamos o nosso Valor.
Artigo publicado originalmente em libertarios.pt