Regularmente, vários «especialistas» na área da economia fazem comentários sobre o estado da «economia». Por exemplo, relatam que a «economia» cresceu tal e tal percentagem, ou que o aumento do défice da balança comercial ameaça a «economia». Segundo os comentadores, a «economia» produz bens e serviços, denominados produção nacional total. Uma vez produzida a produção, o que é necessário é a sua distribuição entre os indivíduos da forma mais justa possível.
Mas será válido afirmar que os bens e serviços são produzidos pela «economia»? Existe realmente uma produção nacional total que deve ser distribuída? O que entendem os comentadores por «economia»? Existe realmente tal entidade?
Num mercado sem restrições, os bens e serviços não são produzidos na totalidade e supervisionados por um comandante supremo. Cada indivíduo está preocupado com a sua própria produção e consumo de bens e serviços. Consequentemente, num ambiente livre, o termo produção total é enganador. Ao agrupar os valores dos bens e serviços finais, os estatísticos do governo concretizam a ideia de «economia» por meio da estatística do PIB e de outros indicadores económicos. Parece que, como a «economia» é concretizada por vários indicadores económicos, os decisores políticos podem navegar a «economia» ao longo do caminho de crescimento considerado desejável pelos «especialistas».
Uma vez expressa em termos de vários indicadores económicos, como a estatística do PIB, espera-se que a «economia» siga o caminho de crescimento traçado pelos planeadores governamentais. Assim, sempre que a taxa de crescimento cai abaixo do caminho traçado, espera-se que os decisores políticos do governo e do banco central dêem um impulso adequado à «economia» através de políticas fiscais e monetárias. Ocasionalmente, porém, os funcionários do governo também alertam os cidadãos de que a «economia» está sobreaquecida (ou seja, está a «crescer» demasiado rápido). Nesse caso, os funcionários do governo e do banco central declaram que é seu dever evitar o «sobreaquecimento».
É preciso perceber que, em nenhum momento, a chamada «economia» tem vida própria, independente dos indivíduos e das suas escolhas. Além disso, não é possível estabelecer a produção real total, uma vez que não podemos somar aritmeticamente batatas e tomates. Até mesmo os estatísticos do governo admitem que tudo isso não é real. De acordo com J. Steven Landefeld e Robert P. Parker, do Bureau of Economic Analysis,
Em particular, é importante reconhecer que o PIB real é um conceito analítico. Apesar do nome, o PIB real não é «real» no sentido de que pode, mesmo em princípio, ser observado ou recolhido directamente, no mesmo sentido em que o PIB em dólares correntes não pode, em princípio, ser observado ou recolhido como a soma dos gastos reais em bens e serviços finais na economia. As quantidades de maçãs e laranjas podem, em princípio, ser recolhidas, mas não podem ser somadas para obter a quantidade total de «fruta» produzida na economia.
Isto, por sua vez, significa que vários indicadores macroeconómicos compilados por estatísticos governamentais estão desligados do mundo real. Consequentemente, várias políticas destinadas a influenciar a entidade inexistente — a «economia» — através de indicadores fictícios causam danos ao bem-estar dos indivíduos.
O Ambiente Económico «Desfavorável» e os Dados Macroeconómicos
Para ter sucesso num ambiente de mercado desfavorável, os empresários tendem a responder às condições prevalecentes, que são influenciadas pelas políticas do banco central e do governo. Um empresário não pode ignorar as mudanças em vários indicadores económicos, como o PIB, dado que os funcionários do governo e do banco central reagem às mudanças nesses indicadores em termos de políticas fiscais e monetárias. Por exemplo, se se espera que o banco central endureça a sua postura monetária em resposta a um fortalecimento do PIB, um empresário deve levar isso em consideração para ter sucesso nos seus negócios.
Num ambiente prejudicado, os empresários são forçados a interpretar vários indicadores económicos em termos de como as autoridades provavelmente responderão a esses indicadores e como essa resposta afectará o seu ambiente de negócios nos próximos meses. O governo, para construir vários indicadores económicos, recolhe dados das empresas, que devem alocar recursos para fornecer informações ao governo. A construção desses indicadores económicos gera oportunidades de emprego para economistas e especialistas em áreas como matemática e estatística. Esses especialistas são contratados não apenas para compilar os vários dados económicos, mas também para interpretar os dados e fornecer orientação às empresas. De acordo com Rothbard,
O consumidor individual, na sua rotina diária, tem pouca necessidade de estatísticas; através da publicidade, das informações de amigos e de sua própria experiência, descobre o que está a acontecer nos mercados ao seu redor. O mesmo se aplica às empresas. O empresário também deve avaliar seu mercado específico, determinar os preços que deve pagar pelo que compra e cobrar pelo que vende, fazer contabilidade de custos para estimar seus custos e assim por diante.
Essas Estatísticas Construídas Sobre a «Economia» Ajudam os Empresários num Mercado Livre?
Num ambiente de mercado livre — livre da interferência do governo e do banco central — não faria muito sentido construir e publicar vários indicadores económicos. Esse tipo de informação seria de pouca utilidade para os empresários. Num mercado livre, que utilidade pode um empresário tirar de informações sobre a taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB)? Como é que a informação de que o PIB aumentou em determinada percentagem pode ajudar um empresário a ter sucesso no seu negócio? Em alternativa, que utilidade pode ser dada aos dados que mostram que a balança de pagamentos nacional passou para um défice ou um excedente?
Numa economia de mercado livre, para um empresário ser bem-sucedido, ele ou ela deve obedecer aos desejos dos consumidores. Prestar atenção aos desejos dos consumidores significa que os empresários devem estabelecer a estrutura de produção mais adequada para esse fim. As informações relativas aos vários indicadores macroeconómicos seriam de pouca utilidade para os empresários. O que um empresário precisa não é de informações macroeconómicas gerais, mas sim de informações específicas sobre a procura dos consumidores por um produto ou uma gama de produtos. Os indicadores macroeconómicos do governo não serão grande ajuda para os empresários.
O empresário tem de estabelecer a sua própria rede de informação sobre um determinado empreendimento. Só um empresário é susceptível de saber o tipo de informação de que necessita para ter sucesso no empreendimento. Se a avaliação da procura dos consumidores por parte de um empresário for correcta, então obterá lucros. Uma avaliação incorrecta resultará em prejuízo. O sistema de lucros e prejuízos penaliza as empresas que avaliaram mal as prioridades dos consumidores e recompensa aquelas que fizeram uma avaliação correcta. A estrutura de lucros e prejuízos garante que os recursos sejam retirados dos empreendedores que não prestam atenção às necessidades dos consumidores. De acordo com Mises, “Assim, os lucros e prejuízos são gerados pelo sucesso ou fracasso em ajustar o curso das actividades de produção à procura mais urgente dos consumidores”.
Conclusão
Os dados macroeconómicos compilados pelos estatísticos do governo permitem-lhes tornar real a ficção chamada «economia». Isto supostamente possibilita que os funcionários do governo e do banco central orientem habilmente a chamada «economia» para um crescimento estável. Como regra, essa navegação culmina em instabilidade económica, inflação de preços, a ameaça do ciclo de expansão e recessão e um enfraquecimento do processo de geração de riqueza.
Artigo publicado originalmente no Mises Institute.