Se formos honestos, a moral cristã, despida das complicações teológicas e políticas que os homens tentam sempre adicionar, leva-nos directamente ao libertarianismo. Sim, isso mesmo. O cristianismo é, no fundo, uma forma de libertarianismo com batina. Jesus foi basicamente o primeiro grande libertário a dar umas voltas por aí, e a diferença é que ele fazia isso de sandálias, sem ler Rothbard, mas com o mesmo princípio: cada um que trate da sua vida e respeite a dos outros.
Comecemos pelo mandamento mais básico: “Não roubarás.” Ora, isto parece bastante simples, certo? Não metas as mãos no que não te pertence. Mas vamos dar um passo atrás e pensar no maior ladrão que existe por aí. E não, não estou a falar de algum bandido de esquina, de um gatuno qualquer com uma camisola enfiada na cabeça. Estou a falar do governo! Sim, esse mesmo, o gajo que aparece com um sorriso, uma caneta, e te diz que os impostos são “contribuições” para o bem comum. Agora até parece que te estão a fazer um favor ao tirar-te uma fatia do ordenado. Mas não se enganem: tirar o que é teu sem o teu consentimento chama-se roubo, seja feito por um indivíduo ou por um grupo de burocratas vestidos de fato e gravata. Só que no caso deles, chamam-lhe “legal”. Engraçado, não?
E ainda há quem defenda que isto é “justo”. Chamam-lhe “o contrato social”. Sabes o que é o contrato social? É aquela porcaria que tu nunca assinaste, mas que toda a gente insiste que tens de seguir à risca. E se te atreves a questionar, dizem-te que és um “mau cidadão”. Ou seja, tu tens que pagar a conta, mesmo que não tenhas pedido o jantar.
Depois, temos o mandamento: “Não matarás.” É outro clássico que parece não ter margens para dúvida. Não devias sair por aí a fazer justiça com as próprias mãos ou a resolver disputas à base da violência. Parece sensato, certo? Mas, novamente, quem é que decide quando a violência é aceitável? O governo, pois claro! Eles até têm um nome simpático para isso: guerra. Se for uma guerra, de repente matar torna-se patriótico. Enchem a boca de palavras bonitas sobre honra e dever, mas no fundo, matar numa guerra é visto como aceitável porque vem com o selo de aprovação do Estado. E o mais ridículo? Eles mandam-te para essas guerras em nome da “paz” e da “segurança” nacional. É como se pegassem fogo à tua casa para depois te venderem extintores.
Agora, se pensares bem, Jesus não andava por aí a convocar exércitos ou a dizer às pessoas para pegarem em espadas e se lançarem ao ataque. Pelo contrário. Ele foi claro: “Aquele que vive pela espada, morrerá pela espada.” É a versão bíblica do “Princípio da Não-Agressão“. Não sejas tu a iniciar a violência. Não sejas tu a atacar o teu próximo. Ora, o libertarianismo não é mais do que isso: se cada um viver em paz e não usar a força contra os outros, estamos a caminhar na direcção certa.
Agora vamos ao cerne da questão, a verdadeira pepita dourada da moral cristã: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Parece fácil, mas é aqui que entra a genialidade libertária. O amor, segundo Cristo, tem que ser voluntário. Não podes obrigar ninguém a amar. Da mesma forma, o governo não pode obrigar-te a ser “bom”. Quando o Estado diz que está a “redistribuir a riqueza” e que é para “ajudar os necessitados”, o que eles estão a fazer é pegar em dinheiro que não lhes pertence e gastá-lo de acordo com os seus próprios critérios. Claro, é fácil ser generoso com o dinheiro dos outros, não é? É fácil dizer que estás a ajudar, quando a tua “ajuda” foi confiscada à força do bolso de outra pessoa. Se pensarmos bem, isso é exactamente o oposto da verdadeira caridade cristã. Cristo nunca disse: “Ama o teu próximo, mas se não amares, vou mandar o Império Romano cobrar-te um imposto e resolver a questão por ti.” Nada disso. Amarás o teu próximo porque tu queres, não porque uma autoridade coerciva te obriga.
E por falar nisso, já notaste como o governo está sempre a tentar ser o teu “salvador”? Eles criam os problemas e depois aparecem com a solução, sempre com um preço, claro. Se a pobreza está a aumentar, aumentam os impostos para resolver. Se a saúde pública está mal, cobram mais “contribuições” para tapar o buraco. No fundo, é uma repetição constante do mesmo ciclo. Criam crises, e depois aparecem a vender soluções, sempre à custa do dinheiro de quem trabalha. Jesus, por outro lado, tinha uma abordagem bem mais directa: curava os pobres e os doentes sem cobrar um cêntimo. Se houvesse um plano de saúde celestial, seria o único sem franquias ou taxas escondidas.
E há mais um ponto que não podemos ignorar: a responsabilidade individual. No cristianismo, cada pessoa é responsável pelos seus próprios pecados. Não podes culpar o teu vizinho, o teu primo, ou a sociedade. És tu e mais ninguém. No libertarianismo, é a mesma coisa. Tu és responsável pelos teus próprios actos. O Estado tenta sempre tirar a tua responsabilidade pessoal, dizendo que é ele quem decide o que é melhor para ti. Eles impõem regras, leis, regulamentos, como se tu não fosses capaz de viver em paz e de fazer as tuas próprias escolhas. Cristo, pelo contrário, confiava nas pessoas. Dava-lhes a liberdade de escolher entre o bem e o mal, sabendo que, no final, seria cada um a responder pelos seus próprios actos. Isso é o que chamamos livre-arbítrio, e se há algo que os libertários também defendem com unhas e dentes, é a liberdade de cada um escolher o seu caminho.
Então, no final de contas, se pegarmos nos princípios morais cristãos e os aplicarmos ao mundo moderno, o resultado lógico é o libertarianismo. Um mundo onde ninguém te obriga a ser bom, mas tu escolhes sê-lo. Onde ninguém pode tirar o que é teu à força, nem usar a violência para te impor a sua vontade. Onde o amor e a caridade vêm do coração, e não do cofre do governo. Se isto não é libertarianismo, então o que é?