“Eu não acredito que teremos um bom dinheiro de novo antes de tirá-lo das mãos do governo, isto é, não podemos tirá-lo violentamente das mãos do governo, tudo o que podemos fazer é por algum caminho indirecto introduzir algo que eles não podem parar.” – Friedrich Hayek, 1976
É inegável que Friedrich Hayek tenha sido um dos maiores economistas da história. Aluno de Ludwig von Mises – esse sim, considerado por muitos o maior economista de todos os tempos –, Hayek recebeu o prémio Nobel de economia no ano de 1974 por causa de sua contribuição à Ciência Económica ao aperfeiçoar a Teoria Austríaca dos Ciclos Económicos (teoria originalmente desenvolvida por Mises). Hayek, como muitos bem sabem, defendia a desnacionalização do dinheiro, i.e., para que o dinheiro passe a ser valorizado constantemente e se torne algo bom novamente, disse Hayek, ele precisa ser tirado das mãos dos governos. Para Hayek, o ideal é que exista concorrência entre diferentes moedas. No raciocínio do economista, se para haver produtos de boa qualidade e com preços baixos as empresas precisam competir entre si, sem interferências do governo (ou seja, sem criação de monopólios, agências reguladores, altos impostos, congelamento de preços, etc.) então para que o dinheiro seja algo de constante valorização, é preciso que haja concorrência entre moedas. Assim, a partir do momento que uma moeda começasse a inflacionar no mercado, a tendência é que a moeda concorrente surgiria como substituta, assim sucessivamente.
É de suma importância ressaltar que Friedrich Hayek sempre atentou para um fenómeno conhecido como Lei de Gresham, que resume-se da seguinte forma: “A moeda má tende a expulsar do mercado a moeda boa.“ – moedas que têm valor pleno em termos de metal precioso tendem a desaparecer quando circulam num sistema monetário depreciado. De acordo com esta lei, as boas moedas são exportadas ou derretidas para se capitalizar o seu valor de mercado mais alto no câmbio estrangeiro. Esta lei pode ser generalizada, e significar que os agentes económicos tenderão a entesourar a moeda boa e a desfazer-se da moeda má passando-a aos outros (fazendo com que ela fique em circulação). Não obstante, quanto ao Bitcoin, a tendência era inflacionar nos seus primeiros anos, porém a criptomoeda se tornou estável, não é inflacionária e se valoriza todos os anos.
Ontem, dia 30 de março de 2021, entrou para a história. PayPal liberou oficialmente pagamentos com Bitcoin, Ethereum e Litecoin nos Estados Unidos da América. A novidade fez com que o mercado entrasse em polvorosa, pois ajuda a popularizar cada vez mais as criptomoedas ao mesmo tempo em que facilita e incentiva o uso do saldo de criptomoedas como meio de pagamento. Obviamente isso fez com que houvesse uma valorização das moedas digitais em questão.
Que o Bitcoin é um fenómeno, todo mundo sabe. Para se ter noção, em 2020 Bitcoin teve uma valorização de 419%. Com a constante valorização das criptomoedas, cada vez mais se fala em deixar o papel moeda estatal de lado. Porém, é preciso deixar muito claro: governos odeiam concorrentes e tentarão de todas as formas tornar essas moedas ilegais e criarem suas próprias moedas estatais (muitos países já falam sobre criação de moeda digital).
Baseando-se na Teoria Austríaca dos Ciclos Económicos, Hayek afirmou que o dinheiro estava em constante desvalorização e por isso era preciso tirá-lo das mãos do Estado ao mesmo tempo em que houvesse concorrentes, pois, segundo ele, o dinheiro estava cada vez valendo menos. E de fato a realidade ainda é essa, pois a Teoria Austríaca dos Ciclos Económicos nos explica que a expansão artificial da moeda e do crédito conduzida por bancos centrais distorce as taxas de juros, estimula a má alocação intertemporal de capital e causa desvalorização do dinheiro, promovendo assim uma expansão artificial da economia, aumento de preços, malinvestments e, consequentemente, desemprego. Como bem sabemos, a dívida de países cada dia aumenta mais, as moedas estatais de todos os países desvalorizam, inclusive, em julho do ano passado tivemos a notícia de que mais dólares foram impressos do que em 200 anos. Outro exemplo é o do Brasil. No ano passado tivemos a criação da cédula de R$ 200,00 que levou preocupação à muitos, pois supostamente estaríamos voltando à década perdida e teríamos nova hiperinflação. Baboseira. O facto é que a criação da cédula escancarou um fato que austríacos alertam há anos: o Real está em constante desvalorização por causa da política de metas de inflação, que permite que o dinheiro desvalorize todos os dias um pouco mais. E com isso, não podemos deixar de parafrasear Ludwig von Mises: “Todos os males que nos acometem por acometerem o mercado diariamente, decorrem do facto de os governos acreditarem que é admissível e natural fabricar dinheiro para gastar mais”.
E assim, seguem em crescimento as criptomoedas. Moedas como Kuwait que vale o equivalente a 3,26 USD (dólares americanos) e Dinar do Bahrein que equivale a 2,65 USD (dólares americanos) são moedas bastante valorizadas, mas que não são muito comentadas e utilizadas por pessoas. Dólar americano é a moeda mais utilizada do mundo, e com sua desvalorização, segue a procura por moedas digitais privadas. Isso, sem contar é claro, que não precisa declarar imposto e não existe a possibilidade do Estado tirar parte do seu dinheiro (moeda digital). A segurança que as moedas digitais trazem é um dos factores que mais fazem elas valorizarem.
Alguns economistas mainstream que já criticaram o Bitcoin e o chamaram de bolha, como por exemplo, Samy Dana, já começam a mudar de ideia e querem até mesmo dar curso sobre investimento nas criptomoedas. Por outro lado, ainda existem economistas que não dão o braço a torcer, como por exemplo, o fundador e economista-chefe da Rosenberg Research, David Rosenberg, que continua a afirmar que Bitcoin é uma bolha massiva.
O facto é que o Bitcoin e outras moedas digitais privadas estão em constante valorização e a melhor coisa que poderia acontecer é a ascensão dessas moedas que competem entre si e estão fora das mãos do Estado. E por mais que o dinheiro não seja riqueza per se, não podemos deixar de afirmar que ele é bom e nos permite-nos adquirir riqueza de fato. E se ele é bom, então precisamos de moedas que não sejam inflacionadas todos os anos. Como bem afirmou Hayek: “Se lutamos pelo dinheiro, é porque ele nos permite escolher da forma mais ampla como melhor desfrutar os resultados de nossos esforços“.