Os média estão no processo da criação de um novo mito histórico enorme. É o mito de que a nossa presente crise é o resultado da liberdade económica e do capitalismo laissez faire.
A tentativa de colocar a culpa sobre o laissez faire é prontamente confirmada através de uma pesquisa do Google sob os termos ” crisis+laissez faire“. Na primeira página dos resultados, ou nas entradas dos links a que se referem estes resultados, surgem declarações deste tipo:
- “A crise das hipotecas é o resultado dos erros do laissez faire“
- “Sarkozy disse que a economia do laissez faire, “auto regulação”, e a visão de que o mercado todo-poderoso sabe melhor está acabada”.
- “A ideologia do laissez faire da América, praticada como foi durante a crise do sub prime, era tão simplista como perigosa, disse o ministro das finanças Alemão”!.
- “Paulson chama a abordagem do laissez faire a culpada da crise financeira”
- “é o au revoir aos dias do laissez faire“
Artigos recentes no New York Times fornecem uma confirmação complementar. Assim, um artigo declara: “Os EUA têm uma cultura que celebra o capitalismo laissez faire como o ideal económico…” Outro artigo diz-nos que “desde há 30 anos, o sistema político da nação tem sido jogado a favor da desregulação e contra novas regras”. Num terceiro artigo, um par de repórteres asseguram que “Desde 1997, o Sr. Gordon Brown tem sido uma voz poderosa por detrás do partido trabalhista a favor da abertura a uma filosofia económica do tipo Americana que é leve no que toca à regulação. A abordagem laissez faire encorajou os bancos a expandirem-se internacionalmente e a procurarem retornos em áreas muito afastadas da sua missão nuclear de atracção de depósitos.” Assim, até a Grã-Bretanha é descrita como tendo uma “abordagem laissez faire“.
A mentalidade subjacente nestas declarações é tão completamente oposta e diferente do significado do laissez faire que seria possível de descrever a velha política da velha União Soviética com uma de laissez faire nas últimas décadas. Pela sua lógica, seria assim que teríamos que descrever a política de Brezhnev e dos seus sucessores ao permitirem aos trabalhadores das quintas colectivas de cultivarem pedaços de terreno até 1 acre em tamanho por sua conta e de venderem os seus produtos nos mercados agrícolas das cidades soviéticas. De acordo com a lógica dos média, também isto seria laissez faire – pelo menos quando comparado com o tempo de Estaline.
O capitalismo laissez faire tem um significado definido, o qual é totalmente ignorado, contradito, e abertamente caluniado por declarações como aquelas citadas em cima. O capitalismo laissez faire é um sistema politico e económico baseado na propriedade privada dos meios de produção e na qual os poderes do estado estão limitados à protecção dos direitos individuais contra a agressão, ou o uso da força física. Esta protecção aplica-se ao início da força física por outros indivíduos privados, de governos externos, e, mais importante, do governo dos próprios indivíduos. Este último é realizado através de meios tais como uma constituição escrita, uma sistema de divisão de poderes e contra poderes, e uma carta de direitos explícita, uma vigilância eterna por parte da cidadania com o direito de possuir e usar armas de fogo. Sob o capitalismo laissez faire, o estado consiste essencialmente apenas de uma força policial, tribunais, e um sistema de defesa nacional, que detém e combate quem inicia o uso da força física. E nada mais.
O total absurdo de declarações que alegam que o ambiente político económico presente dos EUA representa, de alguma forma, o capitalismo laissez faire torna-se perfeitamente claro quando tomamos em linha de conta o papel extremamente limitado do governo sob o laissez faire e depois analisamos os seguintes factos sobre a realidade presente dos EUA:
- A despesa dos EUA iguala hoje mais de 40% do rendimento nacional, i.e., a soma de todos os salários, ordenados, lucros e juros ganhos no país. E isto é sem contar com a enorme despesa fora de orçamento tais como a das empresas públicas Fannie Mae e Freddie Mac. Nem toma em consideração as despesas nos diversos “bailouts“. O que isto significa é que é substancialmente mais do que os 40 dólares por cada 100 de riqueza que são apropriados pelo governo contra a vontade dos cidadãos individuais que produzem essa riqueza. O dinheiro e os bens envolvidos são entregues ao governo apenas porque os cidadãos querem permanecer fora da prisão. A sua liberdade para dispor dos seus rendimentos e da sua riqueza é violada a uma escala colossal. Em contraste, sob o capitalismo laissez faire, a despesa pública estaria a uma escala tão modesta que uma mera receita através de taxas seria suficiente para a suportar. Os impostos sobre os rendimentos das empresas e indivíduos, os impostos hereditários e de capital, a segurança social e o SNS [serviço nacional de saúde, em Portugal] não existiriam.
- Existem hoje 15 departamentos federais , 9 dos quais existem com o propósito deliberado de interferir com a habitação, transportes, saúde, educação, energia, actividades mineiras, agricultura, trabalho e comércio e virtualmente todos estes de forma rotineira agridem um ou mais aspectos importantes da vida da liberdade económica do indivíduo. Sob o capitalismo laissez faire, 11 dos 15 departamentos seriam extintos e apenas os departamentos da justiça, defesa, de estado, e do tesouro permaneceriam. Dentro destes departamentos, contudo, seriam feitas ainda mais reduções, tais como a abolição do IRS no departamento do Tesouro e na Divisão Antitrust no Departamento da Justiça.
- A interferência económica dos departamentos de hoje é reforçada e ampliada por mais de cem agências federais e comissões, a mais conhecidas de todos incluem , para além do IRS, o FRB e o FDIC, o FBI e a CIA, o EPA, FDA, SEC, CFTC, NLRB, FTC, FCC, FERC, FEMA, FAA, CAA, INS, OHSA, CPSC, NHTSA, EEOC, BATF, DEA, NIH, e NASA. Sob o capitalismo laissez faire, todas estas agências e comissões terminariam, com a excepção do FBI, o qual seria reduzido às suas funções legítimas de contra espionagem e combate ao crime contra pessoas e propriedade que ocorrem fora de fronteiras.
- Para completar esta série de interferências governamentais e o atropelo de qualquer vestígio de laissez faire, no fim do ano de 2007,o último ano completo em que existem dados, o Federal Register contém 73 000 páginas de detalhadas interferências governamentais. Este é um aumento de mais de 10 000 páginas desde 1978, os mesmos anos em que o nosso sistema, de acordo com um dos artigos do New York Times citados em cima, ” tem sido jogado a favor da desregulação empresarial e contra regras novas.” Sob o capitalismo laissez faire, não existiria Federal Register. As actividades dos restantes departamentos governamentais e as suas sub divisões seriam controladas exclusivamente através de legislação decretada de forma válida, e não através de regras feitas de dirigentes governamentais não eleitos.
- É claro que, a tudo isto, se deve acrescentar o maior aparato de leis, departamentos, agências, e regulações a nível local e estatal. Sob o capitalismo laissez faire, também estes na sua maioria seriam totalmente abolidos, e aquilo que ficaria sofreria o mesmo tipo de reduções radicais no tamanho e no âmbito àquelas sofridas a nível federal.
O que este breve relato demonstra é que o sistema político e económico dos EUA de hoje é de tal forma distante do laissez faire capitalista que este mais parece um estado policial. A habilidade dos média em ignorar toda a maciça interferência governamental que existe hoje em dia, e de caracterizar o presente sistema económico como o de laissez faire e de liberdade económica é, se não profundamente desonesta, então nada mais do que ilusória.
A INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL É VERDADEIRAMENTE RESPONSÁVEL PELA CRISE
Para lá de tudo isto, temos ainda o facto de que o verdadeiro responsável pela nossa crise financeira repousa precisamente na maciça intervenção governamental, acima de tudo na intervenção do Federal Reserve System, na tentativa de criar capital a partir do ar (i.e., a partir do nada), na crença de que a mera criação de moeda e de esta estar disponível no mercado de empréstimos será um substituto do capital que é criado pela produção e pela poupança. Esta é uma política que foi seguida desde a sua fundação, mas com um vigor excepcional desde 2001, nos seus esforços em derrubar o colapso da bolha do mercado de acções cuja criação inspirou.
A Federal Reserve e outros sectores do governo buscam a política da criação de moeda e crédito em tudo o que fazem quando encorajam e protegem os bancos privados na tentativa de enganar a realidade ao fazer parecer que se pode guardar o dinheiro e ao mesmo tempo se pode emprestá-lo, ambos ao mesmo tempo. Esta duplicidade ocorre quando os indivíduos ou empresas fazem depósitos nos bancos, os quais continuam a fazer compras e a pagar contas através de cheques bancários em vez do uso de moeda. Na medida em que os bancos estão então capazes e encorajados em emprestar os fundos que foram depositados desta forma (normalmente pela criação de novos e adicionais depósitos em vez do empréstimo de moeda), estes estão empenhados na criação de moeda nova e adicional. Os depositantes continuam a possuir o seu dinheiro e os devedores têm agora a maior parte dos fundos depositados. Em anos recentes, a Federal Reserve encorajou sobremaneira este processo, de tal forma que os depósitos agora criados igualam a 50 vezes as reais reservas bancárias dos bancos, uma situação mais do que pronta para implodir.
Todo este dinheiro novo e adicional a entrar no mercado de empréstimos é fundamentalmente capital fictício, na medida em que este não representa quaisquer bens de capital novos e adicionais a entrar no sistema económico, mas meramente uma transferência de partes da oferta existente dos bens de capital para mãos diferentes, para usar doutras maneiras diferentes, e muitas vezes em flagrante desperdício. A crise actual do mercado imobiliário é talvez o exemplo mais evidente em toda a história do mundo.
Talvez um valor como um trilião e meio de dólares ou mais de capital em depósitos novos e adicionais foi canalizado para o mercado imobiliário como resultado das artificiais baixas taxas de juro causada pela presença de um ainda maior montante de moeda nova e adicional no mercado de empréstimos. Devido à natureza de longo prazo do seu financiamento, a habitação é especialmente susceptível ao efeito das taxas de juro mais baixas, as quais podem servir drasticamente para reduzir as prestações mensais dos empréstimos, e desta forma há um correspondente aumento da procura de habitação e a necessidade de empréstimos hipotecários para os financiar.
Durante um período de anos, o resultado foi um enorme aumento na produção e compra de casas novas, preços rapidamente crescentes, seguido de um consequente crescimento em espiral da produção e compra da casas novas na expectativa da contínua subida desses preços.
Para medirmos a escala da sua responsabilidade, no período de tempo logo desde o início de 2001, a Federal Reserve provocou um aumento na oferta do depósito de moeda de mais de 70% do cumulativo total que criou durante os 88 anos de toda a sua existência – isto é, quase 2 triliões de dólares. Foi este o aumento do montante pelo qual o total dos depósitos excedia as reservas dos bancos da moeda real, isto é, a moeda que têm disponíveis para pagar os depositantes que querem dinheiro. A Federal Reserve causou este aumento de capital ilusório através da criação de quaisquer novas e adicionais reservas que fossem necessárias para atingir uma taxa de juro de fundos federais – isto é, a taxa de juro paga pelos bancos sobre o empréstimo e concessão das reservas – e que é bastante mais baixa da que é ditada pelo mercado. Durante os anos de 2001-2004, a Federal Reserve levou os fundos federais abaixo dos 2% e, de Julho de 2003 a Junho de 2004, levou-a ainda mais baixo até próximo de 1%.
A Federal Reserve tornou também possível aos bancos que operassem na mais baixa percentagem de reservas de sempre. Enquanto que nos mercado livres, os bancos possuiriam reservas em ouro iguais aos seus depósitos – ou no mínimo numa proporção substancial dos seus depósitos bancários – a Federal Reserve nos anos recentes actuou para que lhes fosse possível (aos bancos ) operarem com reservas em moeda fiduciária não resgatável de menos de 2%.
A Federal Reserve baixou a taxa de fundos federais e provocou um vasto aumento da oferta de capital ilusório com o objectivo de baixar todas as taxas de juro do mercado. O capital ilusório adicional apenas podia encontrar devedores a taxas de juro mais baixas. O objectivo da Federal Reserve era o de baixar as taxas de juro de tal forma que estas não compensassem até mesmo a subidas dos preços. De forma deliberada, procurou atingir uma taxa de juro negativa sobre o capital, isto é, uma taxa inferior àquela taxa da subida dos preços. isto significa que um credor, após receber o juro devido de um ano, tem menor poder de compra do que o ano anterior, quando tinha apenas o capital inicial.
Ao fazer isto, o objectivo derradeiro da Federal Reserve era o de estimular tanto o investimento como as despesas de consumo. Quis que o custo de obter capital fosse mínimo de maneira a que fosse investido à maior escala possível e que as pessoas encarassem o acumular de dinheiro como uma aposta perdida, o que as levaria a fazer despesas mais rapidamente. Mais despesa, ainda maior despesa, este era a sua preocupação, na crença de que era esta medida o exigido para evitar um desemprego em larga escala.
Como se veio a ver, a Federal Reserve conseguiu o seu desejo de taxas de juro reais negativas, mas num âmbito muito maior do que aquilo que desejaria. Quis uma taxa de juro real negativa de talvez 1 ou 2%. O que conseguiu no mercado imobiliário foi uma taxa de juro real negativa medida pela perda da maior parte do capital investido. Nas palavras do New York Times, “No ano desde que a crise começou, as instituições financeiras mundiais averbaram cerca de 500 biliões de dólares em hipotecas. A não ser que algo se faça para contrariar o rápido declínio do valor dos imóveis, é provável que estas instituições inscrevam de 1 trilião a 1,5 trilião de dólares adicionais”.
Esta vasta perda de capital no colapso imobiliário é aquilo que é responsável pela incapacidade dos bancos em fazer empréstimos a muitos negócios aos quais fariam normalmente. A razão porque não o conseguem fazer actualmente é porque os fundos e a riqueza real que se perdeu já não existe e assim não pode ser emprestada a ninguém. A política do Federal Reserve da expansão de crédito baseada na criação de novos e adicionais depósitos serviu assim para dar capital a devedores imerecidos que nunca deveriam tê-lo tido, e privou outros, bem mais merecedores do capital que precisavam para se manterem em actividade. A política da Federal Reserve foi uma de redistribuição e de destruição.
O capital mal investido e perdido no mercado imobiliário, provocado pelas politicas da Federal Reserve, é um capital que agora não está disponível para empresas como Wicckes Furniture, Linens N`Things, Levitz Furniture, Mervyns, e inumeráveis outros, que entraram em falência pois não conseguiram obter empréstimos que necessitavam para se manterem em actividade. E, é claro, as maiores vítimas foram os próprios grandes bancos. As perdas que sofreram extinguiu o seu capital e levou-os à falência. E a lista de baixas irá aumentar certamente.
Qualquer discussão sobre o colapso imobiliário estaria incompleta se não incluísse a menção do consumo sistemático de activos imobiliários encorajado ao longo de vários anos pelos média e por uma classe ignorante de economistas. Consistentes como os ensinamentos do keynesianismo, que a despesa do consumo é a fundação da prosperidade, estes encaravam a subida dos preços das casas como um poderosos instrumento para aumentar essa despesa. Ao aumentar os activos dos proprietários, defendiam que tal permitia aos proprietários empréstimos para financiarem um consumo adicional e assim manter a economia a um alto nível. Como se veio a ver, esse consumo ajudou muitos proprietários com hipotecas que agora são superiores do que o valor das suas casas, o que não aconteceria se essas hipotecas não fossem alargadas para financiar consumo adicional. Este consumo é a causa de uma perda ainda maior do capital perdido no mal investimento.
Uma discussão sobre o colapso imobiliário também não estaria completa se não mencionasse o papel das garantias do governo em muitos empréstimos de hipotecas. Se o governo garante o juro e o capital de um empréstimo, não existe qualquer razão porque um credor se importe com as qualificações de um devedor. Aquele não perderá ao fazer o empréstimo, por pior que este se venha a revelar.
Um número substancial de empréstimos de hipotecas trazia essas garantias. Por exemplo o, um artigo do New York Times descreve o Departamento de habitação e Desenvolvimento Urbano como “uma agência que lubrifica as rodas da hipoteca para os compradores de primeira casa através do seguro de biliões de dólares em empréstimos”. O artigo descreve como o HUD ( agência do governo nomeada em cima) reduziu progressivamente os padrões de empréstimos: “As famílias não tinham já de provar que possuíam 5 anos de rendimentos estáveis; 3 anos eram suficientes… aos devedores era permitido contratarem os seus próprios avaliadores em vez de se basearem no painel escolhido pelo governo… os devedores não tinham mais de entrevistar a maioria dos devedores segurados cara a cara ou de possuir escritórios físicos”, pois a aprovação do governo para a emissão de seguros de hipotecas tornou-se automática.
O artigo continua e descreve como os “Credores”, tais como a Countrywide Financial, que se encontrava entre os maiores e os mais proeminentes, ” dedicou-se a servir aqueles que possuíam uma história de crédito fraca, e tornou-se inacessível para aqueles alvo dos empréstimos “prime” a baixas taxas”. Realça o facto de que “a Countrywide Financial assinou um protocolo do governo para usar de “esforços criativos pró activos” para estender a propriedade de imóveis a minorias e a cidadãos de baixo rendimento”. “Esforços criativos pró activos” é uma boa descrição daquilo que os credores fizeram ao oferecerem estes tipos bizarros de hipotecas como estas de exigir “apenas o juro”, e depois permitir que se evite até o pagamento dos juros ao juntá-lo ao montante do capital em dívida. (Estas hipotecas caíram nas graças daqueles proprietários cuja razão de compra era o de vender logo que os preços das casas subissem o suficiente.) [O chamado flip house] (N. do T.).
Tal como um vasto número de casas foram compradas baseadas na crença infundada de uma subida interminável dos seus preços, também vastos números de complexos derivativos financeiros foram vendidos na crença infundada de que a Federal Reserve System tinha realmente o poder que alegou possuir de fazer com que as depressões fossem impossíveis – um poder o qual os media e a maioria da classe dos economistas repetidamente afirmavam.
Os Derivativos receberam uma tão má opinião por parte da imprensa que foi necessário realçar que uma apólice de seguros é um derivativo. E muitos dos derivativos que foram vendidos e que estão agora com problemas de liquidez e na falência, nomeadamente, os “credit default swaps” (CDS), eram apólices de seguros de uma maneira ou doutra. A sua lacuna era que, ao contrário dos seguros normais imobiliários, estes não possuíam uma lista suficiente de exclusões.
As políticas de seguros de imóveis fazem exclusões para acidentes tais como guerras, e em muitos casos, dependendo dos riscos da área local, para tremores de terra e furacões. Da mesma forma, os derivativos mais complexos deveriam ter feito uma exclusão por perdas resultantes do colapso financeiro provocado pela Federal Reserve – o patrocínio da expansão maciça do crédito. (Se na verdade é impossível incluir essa exclusão, pois muitas das perdas podem ocorrer antes que a natureza da causa se torne evidente, então esses derivativos não devem ser feitos e o mercado não os deverá aceitar devido ao riscos inaceitáveis envolvidos.) Mas décadas de lavagens ao cérebro pelo governo, dos média, e do sistema educacional convenceu quase toda a gente que esse colapso não era possível.
A crença na impossibilidade de depressões desempenhou o mesmo papel na criação e na venda de “Collateralized Debt Obligations (CDO)”. Nestas diversas hipotecas imobiliárias foram agregadas e foram emitidas securities a favor destas. Em muitos casos, grandes compradores juntavam séries destas securities e emitiram ainda mais securities a favor destas últimas. À medida que cada vez mais compradores falhavam nos seus empréstimos (default), o resultado foi que ninguém foi capaz de avaliar directamente o valor desses títulos. Para o fazer, será necessário destrinçá-las e avaliá-las uma a uma. Estes conjuntos de títulos nunca poderiam ser vendidos num mercado que não estivesse saturado de propaganda de que as depressões eram impossíveis sob a administração governamental do sistema financeiro.
Finalmente, uma discussão sobre o colapso da habitação não estaria completo se não mencionasse das formas de extorsão virtual que serviam para encorajar empréstimos a devedores imerecidos. Assim, a ENCICLOPÉDIA Wikipédia escreve on-line:
O Community Reinvestment Act (CRA)… é uma lei federal dos EUA destinada a encorajar os bancos comerciais e caixas de aforro a suprir as necessidades dos devedores de todos os segmentos das suas comunidades, incluindo as vizinhanças de rendimentos baixos e moderados… As regulações CRA dão aos grupos de comunidades direito de comentar ou protestar sobre a não aplicação do CRA. estes comentários podem ajudar ou prejudicar as expansões dos bancos.
O significado destas palavras é que o Community Reinvestment Act dá o poder aos “grupos de comunidade”, o de determinar sobre aspectos importantes do sucesso ou o fracasso financeiro de um banco. Apenas se estes forem satisfeitos que o banco está de facto a fazer empréstimos suficientes a devedores a quem caso contrário não escolheria fazer empréstimos, é que será permitido o crescimento. O grupo mais proeminente destes grupos de comunidade é o ACORN.
Parte da atmosfera que permitiu uma lei como a CRA possível, são ameaças de calúnia contra os bancos de serem racistas se estes escolherem em fazer empréstimos a pessoas com pessoas de risco elevado e que pertencem também àquele ou aqueloutro grupo minoritário. As ameaças de calúnia andam de mão dada com as intimidações de várias agências governamentais que exercem um poder discricionário sobre os bancos e que estão em posição de os prejudicar se estes não acederem aos desejos das agências. Estes mesmos pontos também se aplicam aos credores hipotecários que não os bancos.
Aquilo que esta análise extensiva das verdadeiras causas da nossa crise financeira demonstrou é que é a intervenção governamental, e não os mercados livres ou o capitalismo laissez faire, os responsáveis em todos os seus aspectos fundamentais.
O MITO DO LAISSEZ FAIRE E O MARXISMO DOS MÉDIA
O mito de que o laissez faire existe no hoje em dia nos EUA e que é responsável pela nossa actual crise económica é promulgada por pessoas que nada sabem de genuíno e de racional sobre a teoria económica ou da verdadeira natureza do capitalismo laissez faire. Estes declaram tais afirmações, apesar de, ou melhor devido, à sua educação nos mais proeminentes colégios e universidades da nação. Quando se trata de assuntos de economia, a sua educação levou-os profundamente às doutrinas erradas e perniciosas de Marx e Keynes. Ao alegarem que existe laissez faire no misto desta maciça intervenção governamental que constituem o verdadeiro oposto do laissez faire, estão a tentar rescrever a realidade para que esteja de acordo com os seus preconceitos Marxistas e visão do mundo.
Estes absorvem as doutrinas de Marx relativamente à história, filosofia, sociologia, nas aulas de literatura mas não em economia. As aulas de economia, embora não sejam normalmente elas mesmo marxistas, oferecem apenas uma leve refutação às doutrinas Marxistas e devotam todo o seu tempo a partilhar o Keynesianismo e outras, doutrinas anti capitalistas não tão conhecidas, tais como a da competição pura e perfeita.
Muitos poucos dos professores e dos seus estudantes conhecem as obras de Ludwig Von Mises, o teórico proeminente do capitalismo e o conhecimento destas é fundamental para compreender o capitalismo. Quase todos eles são ignorantes de uma economia autêntica.
Quando me refiro ao sistema educacional e aos média como Marxista, não pretendo insinuar que os seus membros favorecem qualquer tipo de derrube forçado do governo dos EUA ou que são necessariamente defensores do socialismo. Aquilo que me refiro é que estes são Marxistas na medida em que aceitam as visões de Marx relativamente à natureza e à operação do capitalismo laissez faire.
Estes aceitam a doutrina Marxista de que, na ausência da intervenção governamental, o egoísmo, o lucro, – “a ganância desabrida” – dos empresários e dos capitalistas levam os salários à subsistência mínima enquanto estendem o número de horas de trabalho ao máximo humanamente suportável, impondo condições de trabalho horríveis, levando crianças pequenas para trabalharem em fábricas e em minas. Salientam os níveis miseráveis das condições de vida dos assalariados nos primeiros anos do capitalismo, especialmente na Grã-Bretanha, e acreditam que tal prova o seu caso. Continuam a argumentar de que será apenas a intervenção governamental sob a forma de legislação pró sindical e a favor de salários mínimos, um número de horas máximo, a proibição legal do trabalho infantil, e mandatos governamentais acerca de condições laborais, que ajudam a sorte dos assalariados. Acreditam que a rejeição desta legislação significaria o regresso às condições económicas miseráveis dos princípios do século 19.
Estes vêm os lucros e os juros dos empresários e dos capitalistas como não ganhos, imerecidos, tirados aos assalariados – os alegados verdadeiros produtores – por algo semelhante à força física, e assim encaram os assalariados na posição de escravos ( escravos de salário), e os capitalistas “exploradores” como estando na posição de proprietários de escravos. Intimamente relacionado com isto, encaram a tributação aos empresários e aos capitalistas, usando estas receitas em benefício dos assalariados, em formas tais como a segurança social, medicina socializada, educação pública, e habitação pública, como uma política que serve unicamente para devolver aos assalariados uma parte do saque alegadamente roubado destes no processo de “exploração”.
Em total acordo com Marx e a sua doutrina de que o capitalismo laissez faire os capitalistas expropriam toda a produção dos assalariados acima do que é necessário para a subsistência mínima, estes assumem que a intervenção governamental não prejudica ninguém, a não ser os empresários e os capitalistas imorais, e nunca os assalariados. Assim, os impostos não apenas devem pagar os programas sociais, mas também os salários mais altos impostos pela legislação pró sindical e de salários mínimos assumindo-se que estes vêm simplesmente dos lucros, sem qualquer efeito negativo sobre os assalariados, tal como o desemprego. Tal como o efeito do mandato governamental de uma redução do horário laboral, ou da melhoria das condições laborais, e da abolição do trabalho infantil: os custos de produção resultantes são assumidos simplesmente como o “valor excedente” capitalista, e nunca do padrão de vida dos próprios assalariados.
É esta a mentalidade de toda a esquerda e em particular dos membros do sistema educacional e dos média. É a visão de que o motivo do lucro e a busca do interesse próprio material são inerentemente letais, se não forem forçadamente contrariados e rigidamente controlados pela intervenção governamental. Como se disse, é uma visão que vê o papel do dos empresários e dos capitalistas comparável ao dos donos de escravos, apesar do facto de que os empresários e e os capitalistas não empregam e não podem empregar armas, chicotes, ou correntes para encontrar e manter os seus trabalhadores, mas sim através de melhores ordenados e condições de trabalho que aqueles trabalhadores poderiam encontrar noutro lado.
Não surpreende que o sistema educacional e os média partilhem a visão de que o capitalismo laissez faire é uma “anarquia de produção”, na qual os empresários e os capitalistas se movem como galinhas sem cabeça. Na sua visão, a racionalidade, a ordem, e o planeamento instituem-se com o governo, e não dos participantes do mercado.
Como disse, isto e muito mais como isto, é a estrutura mental da grande maioria dos professores de hoje, e de várias gerações dos seus predecessores. É igualmente a estrutura mental dos seus estudantes, que absorveram inteiramente os seus ensinamentos irreflectidos e alguns dos quais se tornaram jornalistas e editores de publicações tais como o New York Times, The Washington Post, Newsweek, Time, e a esmagadora maioria de todos os outros jornais e revistas de informação. É a estrutura mental dos seus estudantes que são agora os comentadores e editores de praticamente todas as grandes estações de televisão, tais como a CBS, NBC, ABC, e a CNN. E é esta estrutura mental que tenta agora compreender e noticiar a nossa crise financeira.
Na sua perspectiva, o capitalismo laissez faire e a liberdade económica são a receita para a injustiça e para o caos, enquanto que o governo é a voz e o agente da justiça e da racionalidade nos assuntos económicos. Acreditam tanto nesta crença, que quando vêem aquilo que pensam ser provas de injustiça e caos em larga escala no sistema económico, tais como existem na presente crise financeira, estes automaticamente presumem que é o resultado da busca do interesse próprio e da liberdade económica que torna essa busca possível. Dada esta atitude básica, os princípios que guiam os auto denominados jornalistas contemporâneos, que o seu trabalho é o de encontrar os empresários e os capitalistas responsáveis pelos males e os dirigentes governamentais que os deixaram livres para os cometer, e, finalmente, o de identificar e apoiar as politicas da intervenção e de controlo do governo que irão alegadamente eliminar o mal e evitar a sua ocorrência no futuro.
O seu ódio e o seu medo à liberdade económica e ao capitalismo laissez faire, e a sua ânsia em serem capazes em denunciarem esses males como as causas de toda a maldade económica, é tão grande que se enganam a si mesmos e às audiências de todo o mundo de hoje, mas a qual não existe de todo. Ao alegarem que o laissez faire existe, e que é o responsável pelo problema, ficam prontos para dirigir toda a sua força pela liberdade económica e o capitalismo laissez faire actual, contra todo e qualquer pedaço de liberdade económica que de alguma forma consegue subsistir e à qual decidem atingir. Esse pedaço, calculam, é uma parcela da inanição dos trabalhadores na exploração desumana do trabalho que, na sua ignorância, tomam como garantido que é uma imposição pelos capitalistas sob o laissez faire. A sua audiência, já sob uma lavagem ao cérebro – um produto do sistema educacional contemporâneo tanto quanto estes – responde prontamente e suscitam ainda maiores esforços para a chamada ao ódio.
O resultado é sintetizado em palavras como estas, que apareceram num dos mesmos artigos do New York Times que citei em cima:
“Temos agora uma ira colectiva, desprezo, sobre todo o sistema financeiro e é óbvio que iremos ter um contra-ataque regulatório … com um efeito secundário de derrame sobre todas as outras empresas pois os eleitores têm a percepção que “as grandes companhias são animais que precisam de estar em jaulas.”
Desta forma os inimigos do capitalismo e da liberdade económica estão prontos para continuar na sua campanha de destruição e devastação económica. Usam a acusação de “laissez faire” como um tipo de estímulo para aumentar o poder do governo. Por exemplo, nos princípios de 1930, estes acusavam o Presidente Hoover de seguir uma política de laissez faire, mesmo quando este interveio no sistema económico para evitar uma queda dos salários que era essencial para parar uma procura reduzida de trabalho e que resultou em desemprego maciço. Na base do desemprego em massa que foi o resultado da intervenção de Hoover, o que conseguiram descrever como “laissez faire“, estes enganaram o país em apoiar as ainda maiores intervenções do New Deal.
Hoje em dia, continuam o mesmo jogo. É sempre o laissez faire que denunciam, cujas alegadas falhas precisam de ser derrubadas através de ainda maiores regulações e controlos governamentais. Hoje, as intervenções maciças não apenas do New Deal, mas também as do Fair Deal, a New Frontier, a Great Society, e de todas as administrações desde aí, juntaram-se às grandes intervenções que existiam até em 1920, em que Hoover adicionou substancialmente. E mesmo assim alegadamente ainda existe laissez faire. Parece que enquanto alguém se consegue ainda mexer ou até mesmo respirar sem estar sob o controlo do governo, o laissez faire alegadamente continuará a existir, o que serve a necessidade de ainda mais e maiores controlos governamentais.
O passo lógico seguinte deste processo é que qualquer dia todos nós acabaremos acorrentados, ou no mínimo compelidos a fazer algo semelhante a viver num apartado que coincida com o número de Segurança Social. E desta forma, o governo saberá quem é toda a gente, aonde está, e que não se poderá fazer nada sem a sua aprovação e permissão. E nessa altura o mundo estará seguro de alguém que tente fazer algo que o beneficie a ele e que, dessa forma, alegadamente prejudicará os outros. Nesta altura, o mundo desfrutará de toda a prosperidade que advém da paralisia total.
Este artigo foi publicado originalmente no Mises Institute em mises.org